sábado, 30 de julho de 2011

Estou além





"Não consigo dominar
Este estado de ansiedade
A pressa de chegar
P'ra não chegar tarde
Não sei de que é que eu fujo
Será desta solidão
Mas porque é que eu recuso
Quem quer dar-me a mão
Vou continuar a procurar a quem eu me quero dar
Porque até aqui eu só
Quero quem
Quem eu nunca vi
Porque eu só quero quem
Quem não conheci
Porque eu só quero quem
Quem eu nunca vi
Porque eu só quero quem
Quem não conheci
Porque eu só quero quem
Quem eu nunca vi
Esta insatisfação
Não consigo compreender
Sempre esta sensação
Que estou a perder
Tenho pressa de sair
Quero sentir ao chegar
Vontade de partir
P'ra outro lugar
Vou continuar a procurar o meu mundo, o meu lugar
Porque até aqui eu só
Estou bem
Aonde não estou
Porque eu só quero ir
Aonde eu não vou
Porque eu só estou bem
Aonde não estou
Porque eu só quero ir
Aonde eu não vou
Porque eu só estou bem
Aonde não estou"                        António Variações


sexta-feira, 29 de julho de 2011

Liberdade



Voltaste, embora nunca tenhas partido
Não quiseste as portas abertas
Nem a liberdade que te dei
E escolheste ficar comigo
Na prisão com que sonhei.
Afinal não estou só
Pois partilhamos a mesma dor
Sabemos o mesmo sofrer
E por isso estamos
Do mesmo lado do querer.
Porquê, então, fugir ou negar
Fingir ou evitar?
Sendo dois, somos um só
Em inúmeras situações.
Juntos, fundidos, unidos
O mau carácter conseguimos superar.
Quando somos apenas um
Nada mais interessa,
O mundo, somos nós
E tudo pode parar!
Não te quero mais perder
Não preciso de te libertar
Temos todos os caminhos do universo
Para seguir
E somos livres para o partilhar.
Foi-se a mágoa e a incompreensão
Pois adjacentes havemos de ficar
Unidos pelo coração.


quarta-feira, 27 de julho de 2011

Esperança



"A esperança é a poesia da dor, é a promessa eternamente suspensa diante dos olhos que choram e do coração que padece."Paolo Mantegazza 

terça-feira, 26 de julho de 2011

Prisão



Dei-te a liberdade, sem nada te dar
Cuidando que era a minha que podia alcançar.
Vão engano, pois presa ainda estou
Nesta inquietude que em nada mudou.
Nada fui para ti a não ser mais um número
A avolumar a tua conta incontável
Sem significado no teu rol,
Na tua longa lista de troféus.
Não me compreendeste
Nem antes, nem agora, pois
Buscas a perfeição, inexistente
E procuras seres distantes
Não acreditaste nos meus sentimentos
E agora, falas da minha amargura
Aquela que, afinal, tu sentes.
Incompreensível, continuas como antes
Falas de ti, querendo-me acusar
Por ter tentado terminar
Os teus actos impensados
Que não paravam de me magoar.
Orgulho intempestuoso
Impulsividade indisciplinada,
Amor profundo e indecifrável
Eis o que tenho, eis o que sou
E, por isso, presa ainda estou!






segunda-feira, 25 de julho de 2011

Em suspenso




Em suspenso
Vivo esta vida que não vivo
Triste e insatisfeita
Desalentada e desfeita
Por mais do que um motivo.
Não há pontes ou pilares
Nem redes ou protecção
Mesmo assim, avanço

E arrisco com emoção.
Sei onde estou
Sei para onde quero ir
Mas os caminhos são sempre desfeitos
E impossíveis de prosseguir.
Incrédula, procuro a saída
Em cada porta fechada
Em cada janela entreaberta
Mas... Nunca vejo nada!
Interpreto os sinais emitidos
Leio os escritos deixados
Contudo as aparentes verdades
Não passam sempre de mitos.
E em suspenso
Vou adiando o anseio
De conseguir concretizar
Tudo o que desejo.
Não acredito em palavras
Nem em actos ensaiados
E as cores de verão
Vão cruelmente acabando
Em cada encontro desencontrado.
E se me esconder,
E se fingir que não existo?
Quando voltar, estará tudo acabado
E o pior estará resolvido?
Sei que não
E insisto no percurso
E mesmo em sofrimento
Vivo, esta vida
Em suspenso!




quinta-feira, 21 de julho de 2011

Desordem





Passeias
Por um mundo que eu desconheço.
Inventas.
Falas de pessoas e lugares
Como sendo teus e reais.
Fico abalada
Pois não te conheço assim.
Não sei o que se passa dentro de ti
Mas insistes em lá ficar.
Peço-te que voltes
Que venhas para o que sabias
Que sejas o que eu conheço
Que sejas o que eu sei.

Roubaram-te a memória
Violaram-te a razão
A troco de um novo coração.
Não te sei
Não sei como te re-conquistar
Nem sei como te trazer de volta.
Deixaste-te ir
Naquelas horas de sono forçado.
Seduziram-te essas musas
Com rodeios impróprios
E agora, deste lado
Nada parece interessar-te.
Como falo contigo?
Como entro nesse teu  novo mundo
Para te ir buscar?
Se for, ficarei deslumbrada como tu?

Voltas de vez em quando
A medo e por pouco tempo.
Assim, não és meu
E eu, deixei de ser tua
Porque hoje somos outros.
Que é feito de nós?
Onde se recupera o que fomos??
Passeias
Com insistência
Pelos meandros da tua memória
E por lugares que desconheço...






quarta-feira, 20 de julho de 2011

Quase um poema de amor





"Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.
E é o que eu sei fazer com mais delicadeza!
A nossa natureza
Lusitana
Tem essa humana
Graça
Feiticeira
De tornar de cristal
A mais sentimental
E baça
Bebedeira.

Mas ou seja que vou envelhecendo
E ninguém me deseje apaixonado,
Ou que a antiga paixão
Me mantenha calado
O coração
Num íntimo pudor,
— Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor."
Miguel Torga



terça-feira, 19 de julho de 2011

Chama extinta


Murcha a chama que já não chega
Salta o choro, a chiar
Chamo-te... mas não te oiço
E em choque
Aconchego-me no chão
Manchado pela chuva.
Chamo-te de novo
Mas não ouves a chamada
E choro ainda mais.
Sem me mexer
Espero que chegue
A resposta, a chave, o motivo
Mas... nada!
Acho que fui esquecida
E que a chama
Para sempre se vai extinguir
Qual flor sem cheiro
Qual cacho sem uvas
Cresce a desilusão e a melancolia
Cresce a solidão e a dor
E, de coração rachado
De rosto roxo pelo choro
Apago a chama
Viro as costas com vigor
E, baixinho, parto à procura
De um novo ardor!

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Dá-me as tuas dores!






Dá-me as tuas dores
Porque elas não me vão doer
Em mim, elas serão apenas mais umas
E em ti, elas são "As" tuas dores.
Deixa-me ser eu a não conseguir respirar
Porque eu, já não preciso de ar
Deixa-me ser eu a não me mexer
Porque eu, já não me quero mover
Deixa-me ser eu a ficar nessa cama
Tão macia mas tão desconfortável
Porque eu... posso ficar e dormir
Até que o tempo se esqueça de mim.
Dá-me esse teu ar triste
Porque esse é o meu semblante.
Dá-me esses teus olhos parados
Porque os meus já não querem ver.
Dá-me esse teu coração debilitado
Porque o meu já não precisa de bater.
Deixa-me ser eu a não conseguir falar
Porque eu, já nada tenho a dizer.
Deixa-me, pai, deixa-me ser eu a sofrer!
Deixa-me dar-te o que resta de mim,
Aceita a minha vitalidade
Porque assim... eu não quero mais viver!
Dá-me as tuas dores, pai!!!

terça-feira, 12 de julho de 2011

Ela...


Ela anda por aqui
Tão próxima de mim
Disfarçada de menina leal
Mas quando quer
O seu beijo é fatal.
Ceifa quem lhe apetece
Indiscriminadamente.
Enganou a minha parente
Que acreditou poder voar
Mas perdeu as asas no trajecto
E no negro foi acabar.
Namora agora
Quem a vida me deu
E sussurra-lhe de perto
Tanto, que me faz tremer!
Seduz também com crueldade
Em forma de cancer outro parente
Que sofre e definha triste
A caminho do final.
Não sei como a afastar
Não sei o que fazer
Pois apenas aprendi que com o tempo
Ela tudo vem colher.
Dói-me o tempo
Dói-me a perda
Dói-me o sofrimento
De todos os que me são queridos
Dói-me a verdade
E quero ter eu o poder
E a mulher da gadanha
Eu poder levar
Para depois
Também poder descansar.

Ela anda por aí...

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Eu perdoo



"As lágrimas que me fizeram verter, eu perdoo.
As dores e as decepções, eu perdoo.
As traições e as mentiras, eu perdoo.
As calúnias e as intrigas, eu perdoo.
O ódio e a perseguição, eu perdoo.
Os golpes que me feriram, eu perdoo.
Os sonhos destruídos, eu perdoo.
As esperanças mortas, eu perdoo.
O desamor e o ciúme, eu perdoo.
A indiferença e a má vontade, eu perdoo.
A injustiça em nome da justiça, eu perdoo.
A cólera e os maus tratos, eu perdoo.
A negligência e o esquecimento, eu perdoo.
O mundo, com todo o seu mal, eu perdoo."

Paulo Coelho

(Eu, Juca... também perdoo!!)

sexta-feira, 1 de julho de 2011

32400



Conto os dias, conto as horas
Conto os minutos e os segundos
Que já não consigo mais contar
Eles passam  com dificuldade,
Lentos, penosos, devagar
E tento preenchê-los com actos,
Agora vazios e pesados
Pois tudo deixou de fazer sentido.
Não quero este relógio!
Não quero este calendário!
De coração ferido e em padecimento
Invento o que não tem invenção
Tento esquecer o que não tem esquecimento.
Mas continuo a caminhar
Por caminhos já percorridos
Enleio-me nesta minha teia
Velha, doída, conhecida
Mas avanço, mesmo à deriva.
A esperança não a tenho
E vagueio nas palavras que retive
Boas algumas, terríveis outras.
O que se passou, o que aconteceu, o que ficou?
Em alguma parte da composição
Alguém escreveu mal os vocábulos
Alguém errou na forma
Alguém equivocou o conteúdo.
Foste tu? Fui eu?
Fomos nós?
Não quero ser espectadora de mim própria
Mas... terei forças para de novo te inventar?
Para de novo te construir?
Ou apenas terei que te aceitar,
A ti, demónio do meu amar?!
Conto os dias, conto as horas
Conto os minutos e os segundos
E nesta ansiedade de contar
Um qualquer desfecho
Hei-de alcançar...