Olho-te e quase não te reconheço. Pergunto-me onde está o homem que eu antes conheci, o que é feito do teu vigor, do teu viço, da tua garra?!
E dói-me olhar para ti, sofro o teu sofrimento, as tuas dores.
Há muito que os teus olhos perderam o brilho de outrora, a aliciante malícia de quem pode tudo na vida. Hoje estão baços, mortiços e embora já tenham visto quase tudo o que podia ser visto, escusam-se a olhar e a aceitar certas coisas.
Minguaste, ao longo dos anos. O teu corpo cedeu, a tua saúde fugiu e agora... depois de toda uma vida de luta, resta-te um corpo doente e com o qual cada vez menos te sabes movimentar.
Tudo isso me fere, me magoa, me revolta. Sinto-me impotente pois nada posso fazer a não ser continuar a assistir, impassível, ao declínio continuado.
Quero ser forte, porque tenho que ser forte, mas... as lágrimas não se contêm e saltam-me em torrentes incontroláveis. Não o faço à tua frente, para não te entristecer mais ainda. Junto de ti, sou um pilar de força e de boa disposição e tento usar, a custo, humor de ocasião.
És dos poucos homens que ainda me faz chorar porque todas as defesas que eu creio ter construído, contigo caem por terra.
Vou continuar incondicionalmente ao teu lado, a amar-te da forma intensa como o tenho feito até agora. E vou continuar a sofrer, baixinho, isolada, para que tu não o saibas.
Esforço-me por compreender e por aceitar este curso doloroso e inevitável da vida, mas não consigo!
E pergunto-me, em jeito de revolta, porque tem que ser desta forma?
E pergunto-me, o que é que a vida fez do meu pai????