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quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Morte


Fecha-se assustadoramente o cerco.
Ela não pára a sua tarefa incansável. Este ano escolheu os meus para ter o que fazer.
Tem-me levado discriminadamente pessoas e animais de uma forma e a uma cadência que me assusta e dói.
Anda à disputa com a outra que lhe é oposta, mas ainda não se decidiram quanto a mim, que nada faço por aqui, que já me cansei de tudo e cada vez me é mais difícil lidar com as perdas sucessivas, com as derrotas contínuas, com o esquecimento e com o desamor.
Talvez não haja uma sequência lógica, uma escolha criteriosa, uma selecção cuidada, regras específicas. Mas o que é certo é que vai acontecendo, de forma tão compassada que quase já me permito dizer quando e quem vai ser o próximo.
Hoje foi mais um para aquela que dizem ser a morada eterna. Eterna...
Queria colocar-me na fila, tornar-me voluntária, assim, de forma quase despercebida para ver se era contemplada, mas parece que as coisas  não funcionam desta forma, ainda que tudo me pareça aleatório.
Lidar com a morte, faz-me sentir menos viva, menos incentivada para querer continuar a ver o sol.... e a ver o sofrimento de quem fica.
Ela anda por aí e o cerco fecha-se cada vez mais!

JC - Inédito

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Em suspenso




Em suspenso
Vivo esta vida que não vivo
Triste e insatisfeita
Desalentada e desfeita
Por mais do que um motivo.
Não há pontes ou pilares
Nem redes ou protecção
Mesmo assim, avanço

E arrisco com emoção.
Sei onde estou
Sei para onde quero ir
Mas os caminhos são sempre desfeitos
E impossíveis de prosseguir.
Incrédula, procuro a saída
Em cada porta fechada
Em cada janela entreaberta
Mas... Nunca vejo nada!
Interpreto os sinais emitidos
Leio os escritos deixados
Contudo as aparentes verdades
Não passam sempre de mitos.
E em suspenso
Vou adiando o anseio
De conseguir concretizar
Tudo o que desejo.
Não acredito em palavras
Nem em actos ensaiados
E as cores de verão
Vão cruelmente acabando
Em cada encontro desencontrado.
E se me esconder,
E se fingir que não existo?
Quando voltar, estará tudo acabado
E o pior estará resolvido?
Sei que não
E insisto no percurso
E mesmo em sofrimento
Vivo, esta vida
Em suspenso!




quarta-feira, 22 de junho de 2011

Criação pessoal





Porque sendo apenas uma,
há muitas dentro de mim
Crio seres que apenas existem no meu ser.
Assim, concebi-te perfeito
Como nunca foste.
Acreditei que eras real, porque te vi
E toquei-te vezes sem conta
Mesmo não estando ao teu lado.
Ouvi o que me dizias, 
mesmo sem nada me dizeres
Porque era o que queria ouvir.
Por ti,  senti o calor do sol e a brisa do mar
O calor de um verão anunciado e a chuva de primavera,
apenas num  só dia
Porque era o que queria sentir.
Contigo, amei loucamente, ri, sorri
E  chorei lágrimas tristes
Fui ao céu repetidamente e voltei
Porque eram sentimentos meus.
Ao teu lado, engendrei caminhos que não existem
Percorri estradas por construir
Viajei a outros continentes sem me mover
Porque queria contigo,
um longo caminho percorrer.
E de repente, quando o silêncio era chumbo e me esmagava
Fizeste-me saber, com fria crueldade, que não existias
Referiste que havia falsidade na minha solidariedade,
Para ti desimportante e inconveniente
E disseste-me que devia parar a minha invenção
Pois não precisavas de mim.
Estarrecida, parei.
Gelou-se-me o sangue apressado nas veias apertadas
E o coração ferido de todas quis explodir
O sol perdeu o brilho e escondeu-se
O céu cobriu-se de negro vendaval
O mar agitou-se em ondas furiosas
O meu tempo parou também.
Percebi, a custo, que era eu
Que  tinha que me renovar
E não  a ti que eu devia de inventar.
Precisava rapidamente de me recriar.
O que eu buscava em ti, não o tinhas
O brilho, a força, a alegria, o amor, o querer
Sempre estiveram escondidos em mim.
Embora sozinha no caminho que palmilho
Até ao final o vou percorrer
E prometo-me viver tudo o que não vivi.
E tu, Ser por mim inventado
Talvez tarde percebas
Quando te recordares de certos momentos
Que foste tu quem me perdeu...
E não eu que te perdi
Porque eu, imperfeita, sou real
E tu foste apenas fruto do meu querer.







quarta-feira, 15 de junho de 2011

Dói-me



Dói-me
Dói-me o mutismo das tuas palavras
Dói-me a dor que em tudo sinto
Dói-me a incompreensão de não ser compreendida
Dói-me a injustiça do mau julgamento
Dói-me o desprezo e a falta de atenção
Dói-me o final do que mal começou
Dói-me ter que ser forte, sendo fraca
Dói-me a distância que me impões
Dói-me  a tua verdade velada
Dói-me o que não digo por não ter oportunidade
Dói-me a crença sumida
Dói-me o corpo que está doído
Dói-me a alma que foi apagada
Dói-me o cérebro de tanto pensar
Dói-me  o orgulho que fica ferido
Dói-me o coração que está partido
Dói-me a falta de tempo para viver
Dói-me não me poder defender
Dói-me a minha impotência perante os factos
Dói-me nada poder alterar para te ter
Dói-me o futuro que está vazio
Dói-me  a partida
Dói-me a esperança perdida
Dói-me a despedida
Dói-me o adeus.
E tu... também tens dores?!

domingo, 9 de janeiro de 2011

Antes que seja tarde




Antes que se torne insuportável
Ainda com os olhos húmidos
Vou esboçar um sorriso
Neste rosto sem expressão
E libertar, um a um,
Todos os meus pássaros feridos.

Antes que a dor seja insustentável
Vou soltar todos os meus sonhos
Para que eles possam encontrar
Um novo hospedeiro,
Deixando-me, a mim,
A liberdade de não os querer.

Antes que se torne incontrolável
Vou deixá-los partir
E uma nova meta vou traçar
Sem utopias ou devaneios
Sem ilusões ou anseios
Para não ter mais que desejar
E, vazia, a vida poder atravessar.

Antes que se torne inviável
Vou deixá-los voar
Pois, também eles, estão a sufocar.

E, sem esta dor de partilha
Sem o peso do inalcançado
Sem a mágoa do inconcretizado
Antes que seja tarde,
Vou, agora, uma nova vida começar!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Animais domésticos


A Desilusão é um animal doméstico que vive diariamente nas nossas casas e partilha a nossa vida.
Muitas vezes nasce de geração espontânea e aloja-se facilmente onde encontra uma porta deixada aberta pelo cansaço da luta, pelo desânimo da vida, pela exaustão do ser humano.
Outras vezes é por ele inconscientemente adoptada sendo actualmente o processo de adopção extremamente desburocratizado, podendo o mesmo acontecer em qualquer condição social.
A Desilusão é um animal doméstico que cresce nos nossos lares e nos nossos seres, tomando no entanto e muitas vezes, grandes proporções.
Se não estivermos atentos a Desilusão tende a consumir as pessoas sobretudo quando as expectativas das mesmas relativamente à vida e aos relacionamentos são demasiado elevadas.
A Desilusão, um animal doméstico, alimenta-se essencialmente de pequenos actos falhados, de acontecimentos diários que vão contra o que se espera, ambiciona, deseja.
A Desilusão, esse animal doméstico, também tem alguns parentes ocultos, nomeadamente o desânimo, o medo, a revolta, a tristeza e muitas vezes a solidão.
A Desilusão, esse tal animal doméstico, é também um fruto desta sociedade globalizada, em desconstrução, em desmoronamento.
Para extinguir este animal doméstico tão nocivo à saúde do Homem e que tende a voltar ao seu estado selvagem são aceites sugestões de intervenção, tais como: peditórios, manifestações, armas químicas, revoltas individuais, atitudes de insubmissão e muitas outras...
A Desilusão é um animal doméstico.

domingo, 14 de dezembro de 2008

O caminho FEZ-SE caminhando.


Deixei de conseguir caminhar.
Passaram-me rasteiras e fiquei presa nos meus próprios passos.
Não é possível avançar. Encurralaram-me nesta armadilha que ajudei a construír.
Depois da resistência, construi a esperança; depois da esperança quis avançar, ainda que com pequenos passos; e ao avançar acreditei que era possível fazer o caminho...
Enganei-me... fui enganada porque fui indusida em erro e segui pistas falsas.
Agora, em meu redor, tenho apenas um fosso enorme, um enorme abismo igual aos que já conheci e sei apenas que não me posso mexer sob pena de caír nele e me magoar ainda mais.
Sozinha, em silêncio e sem me mover, vou apenas esperar.
Esperar que o tempo tenha a capacidade de preencher este fosso, este abismo cortante e dolente com uma qualquer matéria que me permita continuar.
Continuar não este caminho, mas um qualquer outro numa qualquer outra direcção, com uma qualquer outra orientação.
Estou imóvel até porque, de momento, não me consigo mexer, não consigo reagir. Estou imóvel, desiludida e sem caminho para percorrer...
Vou esperar que uma qualquer luz surja no final deste tunel escuro e frio para onde me conduziram. Talvez ela surja, depois desta malfadada época (pouco) festiva...
Vou esperar...