sexta-feira, 9 de dezembro de 2011




É oficial. É assumido. Infelizmente é real. Apesar de ter tentado agarrar-me, fui caindo, descendo, escorregando e, finalmente, bati no fundo.
Estou enterrada na lama e de momento não me consigo mover.
Fiquei emparedada em vida e estou prisioneira em consequência dos meus actos.
Estou cativa das minhas próprias ideias, das minhas vontades que, com a colaboração externa de vários seres, se foram avolumando e adensando.
Um blogue é algo do domínio público por isso, também aqui eu o assumo publicamente.
E da mesma forma quero reconhecer todas as minhas derrotas, todas as minhas frustrações, todos os meus objectivos inatingidos, todos os meus projectos que não passaram disso, todas as minhas incapacidades sentimentais, todos os meus fracassos em relacionamentos interpessoais, todos os meus excessos perniciosos de amor, todas as minhas tentativas de aproximação a pessoas que efectivamente não precisavam de mim, todas as minhas palavras espontâneas e irreflectidas, todo o meu orgulho irreverente, toda a minha aparente agressividade, toda a minha excessiva dedicação a causas perdidas... enfim, todas as minhas inúmeras falhas e imperfeições de ser humano que ainda se rege pelas emoções e pela simplicidade, pela desnecessária honestidade, colocando a maior parte das vezes o coração antes da razão.
Mas também aqui quero agradecer aos que, de uma forma ou de outra, contribuíram para me empurrar um pouco mais para baixo, para todos os que, com ou sem amor, me foram ferindo e magoando, a todos os que me desprezaram, me esqueceram, me castigaram, me puniram com palavras e acções, me fizeram promessas incumpridas, me mostraram caminhos que não existem, me fizeram ter alguma esperança, quando ela não era viável, me presentearam com fugas à verdade, com omissões, com ilusões, a todos os que partiram sem se despedir de mim, a todos os que me viraram as costas...
O meu agradecimento, porque foram eles que, finalmente, me mostraram que a realidade está longe da perfeição dos contos de fadas e da construção de castelos no ar.
O meu agradecimento porque me permitiram o discernimento necessário para eu perceber que sou eu que estou errada e não os outros e, só dessa forma, poderei querer alterar o meu comportamento, a minha forma de ser, a minha forma de estar e até a minha forma de me entregar. É tempo de perder a inocência.
O meu agradecimento pois este será, definitivamente um ponto de viragem na minha vida. Porque este, será o final de um longo e decalcado ciclo.
O ano está a chegar ao fim, também ele, e a proporcionar uma reflexão, um balanço.
Também por isso, eu vou fazê-los.
E, no final deste ciclo, quando a lama se liquidificar, quando a parede se quebrar, quando o discernimento me voltar e a vontade de re-viver me visitar, eu serei qual Fénix e renascerei das próprias cinzas, feita outra Mulher, sendo outra pessoa, procurando um novo rumo.
Desta forma, também este blogue está moribundo e, ele próprio, fenecerá.
O meu obrigada...

JC - Inédito

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Morte


Fecha-se assustadoramente o cerco.
Ela não pára a sua tarefa incansável. Este ano escolheu os meus para ter o que fazer.
Tem-me levado discriminadamente pessoas e animais de uma forma e a uma cadência que me assusta e dói.
Anda à disputa com a outra que lhe é oposta, mas ainda não se decidiram quanto a mim, que nada faço por aqui, que já me cansei de tudo e cada vez me é mais difícil lidar com as perdas sucessivas, com as derrotas contínuas, com o esquecimento e com o desamor.
Talvez não haja uma sequência lógica, uma escolha criteriosa, uma selecção cuidada, regras específicas. Mas o que é certo é que vai acontecendo, de forma tão compassada que quase já me permito dizer quando e quem vai ser o próximo.
Hoje foi mais um para aquela que dizem ser a morada eterna. Eterna...
Queria colocar-me na fila, tornar-me voluntária, assim, de forma quase despercebida para ver se era contemplada, mas parece que as coisas  não funcionam desta forma, ainda que tudo me pareça aleatório.
Lidar com a morte, faz-me sentir menos viva, menos incentivada para querer continuar a ver o sol.... e a ver o sofrimento de quem fica.
Ela anda por aí e o cerco fecha-se cada vez mais!

JC - Inédito

Tempo



Precisas de tempo, dizes. Mas a que tempo te referes? A todo aquele que eu te tenho dado e parece ter sido desperdiçado? Aquele que eu nunca te tirei? Ao tempo que é insuficiente quando estamos em presença? Ao tempo convencionado pelos Homens? Ou àquele que Chronos representava? Ao teu tempo? Ao meu tempo? E, serão todos eles mensuráveis pelas mesmas medidas que eu conheço? E, como te posso eu dar aquilo que já não tenho, aquilo que o próprio Tempo já me levou?
Contínuo então presa nas teias deste tempo que me consome, que me tira porções de vivências com os seus segundos, com os seus minutos, com as suas horas, quantas vezes escassas e outras tantas, essas mesmas horas, parecem dolorosamente intermináveis.
Tempo... tempo... tempo? O que faço eu com o meu tempo, enquanto o teu tempo não passa?
Espero? Desespero? Arquitecto outros projectos? Simulo alternativas?
Por mim, dou-te aquilo que não tenho e jamais te poderei dar: todo o tempo do mundo.
Tempo... ai o tempo!!!!

JC - Inédito

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Turbilhão




Está cada vez mais ténue a cada dia que passa, a cada acontecimento que surge esta minha outra fronteira. De tal forma que eu própria me amedronto com o que possa suceder... com o desconhecido que aí vem... com o buraco em que me estou a recolher.
De tanto sentir tenho momentos em que me parece que já nada sinto pois a dor de estar viva é tão intensa, tão profunda, tão dilacerante que até o próprio acto de respirar me é algo insuportável.
A um tempo recebo sinais contraditórios e, por isso mesmo, dúbios, vindos de todo o lado de tal forma que já não os consigo interpretar.
Quero gritar mas a voz já não me sai; quero correr e fugir mas as pernas já não se mexem; quero parar de respirar mas involuntariamente os pulmões continuam o seu movimento compassado.
As ideias misturam-se e os sentimentos também se mesclam. Tudo está amalgamado e o meu cérebro dá-me ordens incompatíveis perante as informações que tem vindo a recolher e armazenar.
Quero acreditar, mas creio que não acredito. Junto peças e mais peças deste imenso puzzle em que estou inserida e muitas delas não encaixam... e das que encaixam, não gosto do resultado.
Analiso os dados uma e outra vez e tudo fica sempre mais obscuro, como se tu fosses dois... como se eu fosse duas... como se tudo fosse geminado mas antagónico.
Não consigo processar tanta informação, tanta confusão, tanta falta de conexão.
Queria parar, de uma vez por todas e ser apenas uma pessoazinha regular e inocente, com pouca sabedoria e pouca curiosidade no conhecimento. Queria ser alguém tão regular que não interrogasse cada gesto, cada palavra, cada acto que lhe surge como ambíguo.
Queria proteger-me de mim própria, do que sei que nunca me vai acontecer, do final que vou ter, do futuro que  não vai suceder.
E vou também perdendo tudo, perdendo todos.
Lenta e compassadamente todos me vão abandonando e partindo, seguindo os seus rumos, não importa quais eles sejam.
E a fronteira esbate-se... atenua-se... esvazia-se deixando-me cada vez mais isolada. Como me irei encontrar? Como me poderão saber?
Desisto de mim e de todas as esperanças que podia ter, aqui e agora...
JC - Inédito

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Ponte gasta




Entre as fronteiras tão definidas
Que pensas existir
Construíste  uma ponte, 
De madeira, dizes tu,
Que palmilhas vezes sem conta.
Afinal, as tuas certezas tão ponderadas
Não te permitiram ainda permanecer
Em nenhum dos territórios
E já repetidamente consideraste
Estares do lado de lá,
Daquele que tu até nem queres
Aquele que afirmas tão inacessível,
Tão longínquo, que quase o torna impossível.
Hesitante, vais atravessando a ponte
Para encontrares pessoas diferentes
Quando, no fundo, te queres
Encontrar apenas a ti.

Vou pedir-te que transponhas essa ponte
Uma derradeira vez para me encontrares
E comigo, do tal lado, permaneceres.
Mas, nesse teu vai e vem constante
Já gastaste o fraco piso
E talvez não me queiras nem consigas alcançar.
Afirmas-te imune à dor
Aquela que por vezes inflinges
Não estarás tu a fugir ao amor
Um amor que nunca finges
Um amor que não queres sentir
E ao qual estás a fugir?

Entrega-te.
Permanece.
Não ponderes mais.
Não reflictas demais.
A ponte, já não te será necessária
E não terás que a transpor.
Fica na outra margem
Porque eu, estou cansada de te esperar
... Mas cada pessoa sabe das suas fronteiras!
JC - Inédito


segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Quereres




Quero falar de sentimentos, de amar e de gostar, de duvidar e de ter certezas, de confiar ou desconfiar, de ser paciente ou não mais aguentar, de querer, de  ter ou não ter, de aceitar, de precisar, de dar e receber, de ter ciúmes, de ser egoísta, de possuir sem se apropriar, de magoar e de sofrer, de ser feliz, de poder fazer alguém feliz, de rir e de chorar, de dar e ter liberdade estando sempre ligado...

Quero dizer dos silêncios e das palavras não ditas, de conversas e de sinais, de acenos e de mensagens subliminares, de diálogos e de monólogos, de solilóquios inventados, de humores oscilados, de sussurros e de pedidos, de promessas e de compromissos...

Quero conversar de gestos e de afagos, de carinhos e de sussurros, de carícias e de afectos, de beijos e de abraços, de desejo, de partilha, de prazer, de fusão, de unidade, de profusão de sentidos e sentimentos...
Quero contar as presenças e as ausências, o caminhar passo a passo, lado a lado ou em sentidos opostos...

Quero proferir palavras sobre projectos e sobre decisões reflectidas mas sempre difíceis porque implicam escolhas que podem ou não ser racionais...
Quero ainda falar do tempo, do tempo que é necessário, do tempo que é sempre escasso, do tempo que já nos levou mais de meia vida, do tempo que nos consome e até do tempo que ainda nos resta... dando tempo ao tempo... o tempo que a minha ainda impaciência me diz não ter...

Quero conversar sobre os meus e os teus quereres, sobre os meus e os teus mereceres, sobre os meus debilitados laivos de sonhos e sobre as tuas racionalidades... Mas, acima de tudo, quero falar de mim e de ti, do que nos aproxima ou afasta e de tudo o que é possível fazer para convergirmos no mesmo ponto.
Quero, simplesmente, falar de amor sem delimitar a sua fronteira, ou então, considerar que és tu essa fronteira, sem proferir nomes, sabendo que tu és o verbo e tu és, indubitavelmente, "O" nome, apesar de todos os pesares...

Quero apenas isto no silêncio e na quietude dos nossos seres descobertos, porque o amor comanda a Vida. Vamos então falar?

JC - Inédito


domingo, 4 de dezembro de 2011

Ser paciente




Este Universo que nem sempre me tem parecido equilibrado envia-me agora uma reflectida mensagem e informa-me que é necessário ser paciente pois tudo acontece a seu tempo.

Dadas as recentes aprendizagens, as recentes e quase inesperadas alterações, entrego-me à razão e pretendo encher-me dela a fim de alcançar a tranquilidade que tanto desejo.

Talvez a sapiência advenha da paciência e esta conquiste, passo a passo, a paz merecida junto de quem pretendo.
Vou, então, seguir os indícios deste Universo que, acordou agora para mim e descobriu que eu ainda existo... talvez ele me queira dar o que sempre me deveu.
Vou ser paciente...

JC - Inédito

sábado, 3 de dezembro de 2011

Empréstimo a curto prazo



Foi o fortíssimo vento norte que me arrastou, receosa, à cimeira embora a mesma tenha sido convocada por mim. Contudo, apesar dos indícios e dos prenúncios, ainda guardava uma débil réstia de confiança, mesmo que me estivesse a convencer do contrário para me enganar e adiar um outro momento doloroso.
Os galhos e as folhagens já se tinham quebrado e tudo me parecia decadente e sem sustentação. Sei que este tem sido, indubitavelmente, um ano de perdas.
Mas apesar de todas perdas humanas que eu já tinha sofrido acreditava que já não haveria  mais nenhuma que me pudesse afectar e pensava que por estar tão ferida,  já nada me poderia fazer sofrer mais ainda... porque as receava ainda, porque temia que elas pudessem efectivamente acontecer.
Vieste também arrastado pelo mesmo vento e o teu semblante era fechado, triste, soturno. Não sabias ao que ias. Não sabíamos ao que íamos e o desconhecido causava-nos desconforto.
Não és carne da minha carne, nem sangue do meu sangue. Não trilhaste quase nenhuns caminhos comigo. Não fizeste ainda construções ao meu lado. Não participaste nos meus primeiros sonhos, nem acompanhaste a maior parte das minhas desilusões. Não conheceste as minhas poucas alegrias, nem o fabricar da minha história, nem tão pouco das minhas muitas estórias. Pouco sabes ainda de mim. Eu quase nada sei de ti. No entanto, o que inicialmente nos aproximou foi fulminante e forte, intenso e belo. Pouco sólido também. Demasiado frágil para já ter conseguido perder todos os laivos do efémero e ganhar mais consistência com o tempo. Mas, mesmo assim, tive de novo medo, muito medo, daquele meu medo já muito velho que me faz desalentar e quase ter a noção de não conseguir suportar mais perdas.
E tu, esse já pedaço de mim de quem eu não me apoderei porque ninguém se apodera de outro alguém, afastas-te, escondes-te, foges de mim de tal forma camuflada que os meus sentimentos têm estremecido vezes sem conta em tempo tão curto.
Mas a ordem de trabalhos da cimeira seguiu de forma pacífica e esclarecedora. Direi que sentimos e sofremos da mesma forma, manifestando-o, no entanto, de forma diferente porque somos seres diferentes. Mas é isso que nos aproxima e pode unir.
As vontades que, de início semelhavam paralelas, começaram a ficar difusas e a crescer de  formas diferentes, a mostrar necessidades diversas por força dos que nos rodeiam e inibem.            
Acabou sem ter terminado, esse breve encontro, ficando de novo todos os assuntos pendentes e em aberto.
O mesmo vento que me levou, também me trouxe mas, com ele, na viagem de regresso transportei o pequeno empréstimo que pedi à felicidade: um pouco de esperança.
Ainda no regresso, esculpi na pedra do meu pensamento as respostas que me deste às duas questões que te coloquei. São elas que me vão acompanhar nos próximos dias e fazer com que a escuridão se torne menos insuportável e os dias menos frios e vazios.
Hoje, contraí um empréstimo que será resgatado no futuro mas que, sei-o um pouco melhor, poderá dar frutos... aqueles dos quais, já no escuro e sem rosto, tu me falaste...
Hoje contraí um empréstimo para o nosso futuro!
Felizmente que existem ventos fortes!

JC - Inédito

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

O IMPOSTO..




"Quem ama:
Não sabe do nunca;
Não busca o porquê;
Não procura o como;
Não conhece o mas;
Não se importa onde;
Não abrange o se...

Só tem certo o quem!

Quem ama:
Ama!
Mas e quem quer amar?
Quem quer essa certeza
E não a tem?

Quem procura encontrar um amor
E ser correspondido
Quando apenas sente
A chuva ácida do tempo
Lhe enrugando a face sem sentir?

Como sobreviver assim...
Selvagem de sentimentos
E sentidos,
Virgem de fé e amor?

Quem não ama...
Olha prá Lua
E se sente despido
Porque não vê beleza
Na luz da noite...
Porque não vê...

Quem não ama
Não vive,
sobrevive apenas às penas
Que a vida lhe reserva...

Amar
É pois fundamental,
Mas não conta para tempo de serviço,
Não tem preço nem salário,
Não tem direito a greve
Ou baixa por doença...

Amar é um dever da alma,
Decretado pelo coração,
E apenas tem como imposto
A felicidade!..."

Haragano, O Etéreo