Chegas no escuro como um fantasma. Mas trazes contigo o sol, o sal e o condimento que falta na minha vida.
De narinas impregnadas em ti, entrego-me sem resistência, sem dor, sem esforço. Caem-me todas as máscaras, todas as defesas, todas as barreiras, todas as negações.
O tempo não conta. O relógio pára... não é importante, e o coração acelera.
És tu
aquele,
o tal,
o único.
Rendo-me. Não penso em nada. Não preciso de pensar.
E, ali, prostrada de glória, recupero em minutos o que perdi durante toda uma vida de desperdício, mal vivida.
Desligo. A minha consciência desliga, ainda que seja só por um fracção de segundos.
O Nirvana é-me mostrado e, depois, vai-se.
Deixo as minhas mãos percorrerem o teu corpo suado, o teu ser másculo, descobrindo, tacteando cada pedaço, cada reentrância, cada saliência cada poro, cada sinal, cada pilosidade de ti.
De olhos semi-cerrados consigo ver tudo, sentir tudo o que se pode sentir de bom naquele momento.
Esqueço a vida, viro as costas à dor, ignoro o sofrimento que me tem acompanhado. O que é importante é o
ali, o aquele
tu, o
nós.
Esvaeço-me nos teus braços, suspiro de satisfação e dou-te o meu corpo despido que tem estado vazio e oco, aquele que tem sofrido as dores da alma e do coração.
Movimentamo-nos com balanços cadenciados, em sintonia, numa dança de prazer improvisada ao ritmo do momento.
Não foi por acaso que o destino nos juntou. Tudo tão semelhante, tão melodramaticamente paralelo, tão inexplicavelmente trágico que, juntos, podemos tentar procurar o advir ou saltar para o abismo (inexplicavelmente também sentimos o mesmo, manifestando-o de formas sensivelmente semelhantes).
Explodimos, ficando num só.
Ofegantes de prazer, soltamo-nos um pouco, olhamo-nos em silêncio, perscrutando o olhar do outro, esboçamos um breve sorriso quase imperceptível e trocamos um beijo ardente e carinhoso.
Surge a prosa, fácil, séria mas alegre, profunda também, triste por instantes. Falamos a mesma língua e usamos a mesma linguagem. Falas-me da mulher que eu sou e tu sentes, e enalteces-me o ego. Quero dizer-te o que penso de ti, o que és para mim mas, estupidamente, nada me sai.
E tudo se repete, de forma sincopada, uma e outra vez.
Dever ser isto a felicidade, penso para comigo, sem nada te dizer.
Depois pára. Tudo pára, mas de uma outra forma.
Abraças-me fortemente, sem medo nem estranheza, uma última vez.
Dás-me mais um beijo... trocamos umas poucas palavras. E, da mesma forma silenciosa como chegaste, assim partes. Fico só.
(...)
Viro-me na cama tentando encontrar uma posição confortável mas o meu pé esbarra no lençol enrodilhado e em desalinho, acordo e abro os olhos.
Foi apenas um sonho, quase real, tão terrivelmente real!
Afinal, as pedras da calçada continuam a chorar!!!!