quinta-feira, 29 de abril de 2010

Dia da Mãe


Para Sempre
"Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
— mistério profundo —
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho."

Carlos Drummond de Andrade, in 'Lição de Coisas'

terça-feira, 13 de abril de 2010

Visitas não convidadas


Ela veio de novo visitar-me e provavelmente vai querer habitar-me temporariamente. Só que eu não a convidei... pelo menos voluntaria e conscientemente.

Achamos que somos uma pessoa, mas aos olhos dos outros somos alguém diferente. Desejamos ser de determinada forma, mas somos de outra apenas porque não conseguimos ser essa "tal" pessoa ou pura e simplesmente porque não nos deixam.
E é também por isso, talvez, que ela me visita.

E vem o calor excessivo, ofertando suores, seguido de um frio de rachar, que faz tremer o queixo. Uma escuridão de breu de meter medo, seguida de um sol resplandecente que fere a vista. Um peso inexplicável às costas e simultaneamente sentir asas para voar.

Mais o medo. O querer e o não conseguir. E decididamente sei que o que incomoda não é o receio do desconhecido, do que pode vir a seguir. Isso não, pois quase tudo o que era desconhecido e podia acontecer, já aconteceu.

Mas ele está comigo. Olho para trás e pouco mais consigo do que o que ficou por fazer, por alcançar, por atingir. Poderia e deveria ver o que foi feito... mas é tão pouco importante e desinteressante, que passa despercebido no meio de tudo o resto.
E são também as lágrimas salgadas, seguidas de gargalhadas estridentes, descontroladas e patéticas. A alegria e o bem-estar que são rapidamente engolidos por ela... teimosa, ganhadora, valente!

É tudo isso ao mesmo tempo colocado no misturador gigante e desmesurado em que a minha cabeça se tornou.

É o estar definitivamente deslocada em qualquer que seja o lugar, é o sentir que estou a mais ou que não pertenço a lado nenhum, que deixei de ter raízes e referências ou que, pura e simplesmente, nunca as tive.

Mesclam-se, atropelam-se as ideias e os sentires... só sei a dor. Já nem sei as palavras. Apenas os sentimentos, também eles destemperados, inqueridos.

Vou-me embora. Parto. Quero fugir de mim. Começo a fugir de mim própria. Viro-me as costas, mas persigo-me. Estranha forma esta¸ de ser, de estar, de amar. Era tão mais fácil ser outra pessoa! Como ser quem não sou?

São as lágrimas que vencem o riso. Tremo de novo.
Já não sei bem o que sou o que me tornei... no que me tornaram. Mas sei apenas e ainda o que quero, o que preciso, mas não quero admitir... digo apenas baixinho porque a fraqueza pode vencer-me também.

Fica o vazio.
Fica o que não tenho.
Fica-me a companhia da minha visita.
Por quanto tempo irá ela ficar comigo?
"Pensamento positivo. Não a deixes ficar. Não lhe dês guarida!" oiço sussurrar bem baixinho no fundo de mim...

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Pára de procurar-me

"Pára de procurar-me nos altares, nas rezas e nas procissões. Eu estou aqui. Eu já não sou aquele que adoras, aquela imagem fúnebre. Estou vivo, e estou aqui. Estou aqui em energia, numa nova dimensão.
Numa dimensão que vais ter de explorar, vais ter de desbravar, se quiseres estar comigo. Se quiseres realmente estar comigo. Eu já não estou nessa dimensão há muito tempo. Eu já não estou aí. Pelo menos este Eu que quero que conheças. Este Eu, mais inteiro, mais intemporal. Este Eu mais vibrante, energético e intenso. Este Eu de luz.
Pára de me procurar fora. Eu estou aqui. Bem aqui. Bem dentro de ti. E sempre que olhares para dentro, vais ver-me. E vais perceber que eu já não estou nos quadros com moldura antiga, ou nas catedrais.
Estou aqui dentro de ti a fazer parte da energia e a ajudar a encontrares-te e a sentires, a sentires profundamente quem realmente és."
Alexandra Solnado



quarta-feira, 7 de abril de 2010

terça-feira, 6 de abril de 2010

Espera por mim


Espera por mim.
Deixa-me estar e crescer contigo.
Leva-me ao teu lado, de mão dada, brincando nas estradas da tua vida.
Quero ver-te correr e jogar à bola contigo.
Quero acompanhar-te em cada queda, de cada vez que arranhares os joelhos, de cada vez que rasgares as calças.
Quero rebolar contigo na relva, construir castelos na areia da praia, afogar-me contigo nas ondas da imaginação.
Quero perder-me no brilho dos teus olhos, afogar-me nas tuas lágrimas e abraçar os teus sorrisos.

Guarda-me com amor na tua caixinha e procura-me sempre que quiseres, sempre que te apetecer ou sempre que precisares porque, de qualquer forma, mesmo que não saibas, mesmo que não te lembres, mesmo que não me vejas, mesmo que não te apeteça, eu vou estar contigo a zelar por ti, a dar-te o meu apoio e o meu amor incondicional, assistindo à beleza única do teu crescimento.

Deixa-me rir e chorar contigo, gritar alto as tuas alegrias ou reclamar por causa das tuas tristezas... pelas injustiças do mundo.
Ou deixa-me apenas estar, sem nada fazer, sem nada dizer, sem nada julgar... apenas estar contigo e ver o brilho do teu olhar, ouvir a pureza das tuas gargalhadas, deliciar-me com a suavidade do teu sorriso porque eu... eu existo para isso... porque eu... eu sou apenas a tua "granny".
Espera por mim! Deixa-me estar contigo!