terça-feira, 30 de agosto de 2011

A mulher portuguesa...





"A Mulher Portuguesa Tem um Bocado de Pena dos Homens. A mulher portuguesa não é só Fada do Lar, como Bruxa do Ar, Senhora do Mar e Menina Absolutamente Impossível de Domar. É melhor que o Homem Português, não por ser mulher, mas por ser mais portuguesa. Trabalha mais, sabe mais, quer mais e pode mais. Faz tudo mais à excepção de poucas actividades de discutível contribuição nacional (beber e comer de mais, ir ao futebol, etc). Portugal (i.e., os homens portugueses) pagam-lhe este serviço, pagando-lhes menos, ou até nada.

O pior defeito do Homem português é achar-se melhor e mais capaz que a Mulher. A maior qualidade da Mulher Portuguesa é não ligar nada a essas crassas generalizações, sabendo perfeitamente que não é verdade. Eis a primeira grande diferença: o Português liga muito à dicotomia Homem/Mulher; a Portuguesa não. O Português diz «O Homem isto, enquanto a Mulher aquilo». A Portuguesa diz «Depende». A única distinção que faz a Mulher Portuguesa é dizer, regra geral, que gosta mais dos homens do que das mulheres. E, como gostos não se discutem, é essa a única generalização indiscutível.

A Mulher Portuguesa é o oposto do que o Homem Português pensa. Também nesta frase se confirma a ideia de que o Homem pensa e a Mulher é, o Homem acha e a Mulher julga, o Homem racionaliza e a Mulher raciocina. E mais: mesmo esta distinção básica é feita porque este artigo não foi escrito por uma Mulher.

Porque é que aquilo que o Homem pensa que a Mulher é, é o oposto daquilo que a Mulher é, se cada Homem conhece de perto pelo menos uma Mulher? Porque o Português, para mal dele, julga sempre que a Mulher «dele» é diferente de todas as outras mulheres (um pouco como também acha, e faz gala disso, que ele é igual a todos os homens). A Mulher dele é selvagem mas as outras são mansas. A Mulher dele é fogo, ciúme, argúcia, domínio, cuidado. As outras são todas mais tépidas, parvas, galinhas, boazinhas, compreensíveis.

Ora a Mulher Portuguesa é tudo menos «compreensiva». Ou por outra: compreende, compreende perfeitamente, mas não aceita. Se perdoa é porque começa a menosprezar, a perder as ilusões, e a paciência. Para ela, a reacção mais violenta não é a raiva nem o ódio – é a indiferença. Se não se vinga não é por ser «boazinha» – é porque acha que não vale a pena.

A Mulher Portuguesa, sobretudo, atura o Homem. E o Homem, casca grossa, não compreende o vexame enorme que é ser aturado, juntamente com as crianças, o clima e os animais domésticos. Aturar alguém é o mesmo que dizer «coitadinho, ele não passa disto…» No fundo não é mais do que um acto de compaixão. A Mulher Portuguesa tem um bocado de pena dos Homens. E nisto, convenhamos, tem um bocado de razão.

O que safa o Homem, para além da pena, é a Mulher achar-lhe uma certa graça. A Mulher não pensa que este achar-graça é uma expressão superior da sua sensibilidade – pelo contrário, diverte-se com a ideia de ser oriundo de uma baixeza instintiva e pré-civilizacional, mas engraçada. Considera que aquilo que a leva a gostar de um Homem é uma fraqueza, um fenómeno puramente neuro-vegetativo ou para-simpático – enfim, pulsões alegres ou tristemente irresistíveis, sem qualquer valor.

E chegamos a outra característica importante. É que a Mulher Portuguesa, se pudesse cingir-se ao domínio da sua inteligência e mais pura vontade, nunca se meteria com Homem nenhum. Para quê? Se já sabe o que o Homem é? Aliás, não fossem certas questões desprezíveis da Natureza, passa muito bem sem os homens. No fundo encara-os como um fumador inveterado encara os cigarros: «Eu não devia, mas.. » E, como assim é, e não há nada a fazer, fuma-os alegremente com a atitude sã e filosófica do «Que se lixe».
Homens, em contrapartida, não podiam ser mais dependentes. Esta dependência, este ar desastrado e carente que nos está na cara, também vai fomentando alguma compaixão da parte das mulheres. A Mulher Portuguesa também atura o Homem porque acha que «ele sozinho, coitado; não se governava». O ditado «Quem manda na casa é ela, quem manda nela sou eu» é uma expressão da vacuidade do machismo português. A Mulher governa realmente o que é preciso governar, enquanto o homem, por abstracção ou inutilidade, se contenta com a aparência idiota de «mandar» nela. Mas ninguém manda nela. Quando muito, ela deixa que ele retenha a impressão de mandar. Porque ele, coitado, liga muito a essas coisas. Porque ele vive atormentado pelo terror que seria os amigos verificarem que ele, na realidade, não só na rua como em casa não «manda» absolutamente nada. «Mandar» é como «enviar» – é preciso ter algo para mandar e algo ao qual mandar. Esses algos são as mulheres que fazem.

O Homem é apenas alguém armado em carteiro. É o carteiro que está convencido que escreveu as cartas todas que diariamente entrega. A Mulher é a remetente e a destinatária que lhe alimenta essa ilusão, porque também não lhe faz diferença absolutamente nenhuma. Abre a porta de casa e diz «Muito obrigada». É quase uma questão de educação.

A imagem da «Mulher Portuguesa» que os homens portugueses fabricaram é apenas uma imagem da mulher com a qual eles realmente seriam capazes de se sentirem superiores. Uma galinha. Que dizer de um homem que é domador de galinhas, porque os outros animais lhe metem medo?
Na realidade, A Mulher Portuguesa é uma leoa que, por força das circunstâncias, sabe imitar a voz das galinhas, porque o rugir dela mete medo ao parceiro. Quando perdem a paciência, ou se cansam, cuidado. A Mulher portuguesa zangada não é o «Agarrem-me senão eu mato-o» dos homens: agarra mesmo, e mata mesmo. Se a Padeira de Aljubarrota fosse padeiro, é provável que se pusesse antes a envenenar os pães e ir servi-los aos castelhanos, em vez de sair porta fora com a pá na mão."

Miguel Esteves Cardoso, in ' A Causa das Coisas '


Agora, apenas o meu corpo está vivo
E só o meu físico se manifesta
Pois por dentro, morri.
Fui morrendo aos poucos
Aniquilada por ti, meu progenitor
Que partiste para sempre
Levando parte do meu coração;
Abatida por ti, forasteiro
Que um dia, em engano
Disseste que me amavas
E depois desapareceste
Com mais outro pedaço da minha alma;
Ceifada por ti meu descendente
Que fugiste para longe
Buscando a tua vida
E roubando um pouco mais do meu ânimo;
E por ti, pequenino
Que por o seres,
Também me esqueceste.
Já nada sinto, nada desejo, nada almejo.
O passado não me preenche
O presente não me interessa
E o futuro não existe.
A tristeza dominou-me
A dor, tomou conta do meu ser
Mas não do meu corpo
E, depois de ele também apodrecer,
Vou partir
Para um qualquer outro lugar
Onde não tenho um corpo
Mas posso sentir e amar
E, sem medo do abandono
Ou da dor
Poderei ser feliz e
Para sempre irei sonhar..
Porque agora... apenas o meu corpo está vivo!










Muitas vezes a melhor forma de chamar a atenção de alguém é deixar de lhe dar atenção.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Pessoas...



As pessoas não são apenas palavras, desejos e intenções. Elas são o que são... e o que fazem.. ou não.



"Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém...
Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim...
E ter paciência para que a vida faça o resto..."
William Shakespeare


P.S. Se não gostarem de mim pelo que sou e faço... é pena, mas é sinal de que também não me merecem!

domingo, 28 de agosto de 2011

Adeus pai!!



Sempre estiveste ao meu lado, nos bons e nos maus momentos... mesmo naqueles em que todos me julgaram, me difamaram e viraram as costas como se eu fosse uma condenada... E nesses, tu não desististe de mim, apoiaste-me e deste-me o teu amor e ainda demonstraste orgulho na pessoa que eu sou.
Julgavas-me tu, por vezes, de outra forma,  num tom baixinho e silencioso, só entre nós, sem ninguém ouvir, para que eu conseguisse entender o que se passava, crescer e tornar-me uma pessoa maior e melhor.
Também soubeste ensinar-me a defender-me, quando é necessário. Soubeste fazer isso, e muito mais.
Ensinaste-me o que é a Justiça, a Seriedade, a Verdade, a Integridade e a Honestidade. Demonstraste-me o valor da Liberdade e do Respeito... por mim e pelo próximo.
Mostraste-me que a vida, a maior parte das vezes, é amarga e dura... mas também me ensinaste que, mesmo assim, é preciso lutar, continuar a perseguir os nossos objectivos.
Ensinaste-me a saber fazer muito, mesmo tendo pouco e a ser grande, independentemente do meu tamanho. Sempre me disseste que valho pelo que sou, e não pelos bens materiais que possuo e exibo.
Quiseste manter-me longe da Vaidade mas mesmo assim aprendi a ter brio em mim... e, aos teus olhos, eu surgia-te sempre bonita. Elogiavas-me de forma discreta mas fazias-me sentir a mulher mais linda do mundo!
Mas também me ensinaste a rir e a brincar até com as situações menos boas da vida.
Provaste-me muitas vezes que o humor nos pode ajudar em muitas ocasiões e que a atitude positiva é fundamental.
Hoje sei que tudo isto só foi possível devido ao teu  infinito e incondicional  amor paterno.
Partiste. Chegou o final da tua jornada por aqui. Fico mais pobre, sem duvida e o meu coração minguou ... mas, quando esta dor cruel mitigar, sei que ele vai insuflar de novo com todo o amor que tu me deste, me deixaste e que eu sinto e sentirei por ti para todo o meu sempre.
Vou tentar acreditar que partiste para um lugar melhor, onde a "luta" diária pela vida não seja contínua e intensa e onde tens, descanso, Luz e muita Paz.
Por isso meu querido pai, aqui fica expressa a minha sentida despedida, o meu "Adeus", o meu agradecimento e o orgulho que eu sempre tive em ti. Ser tua filha foi um privilégio e uma bênção.
Adeus meu querido pai! Descansa em paz!




"Se um dia você tiver que escolher entre o mundo e o amor, lembre-se:  
Se escolher o mundo ficará sem amor, mas se você escolher o amor, com ele conquistará o mundo".

Albert Einstein

quinta-feira, 25 de agosto de 2011



"Quando o "porquê" é forte, o "como" torna-se fácil"
Lou Radja




"Existe um destino que faz de nós irmãos. Ninguém caminha sozinho. Tudo o que acrescentamos à vida de alguém, reflecte-se na nossa."
Edwin Markham


"As pessoas realmente se tornam completamente extraordinárias quando elas começam a pensar que elas conseguem fazer coisas. Quando elas acreditam em si mesmas, elas adquirem o primeiro segredo do sucesso."
Norman Vincent Peal



"Cuidado com a tristeza. Ela é um vício."
Gustave Flaubert

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Saudade




"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida."

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Adeus



Ai!
Quanto eu vou chorar por ti, pai!
Tanto que sinto esta dor
Provocada pela tua partida
Por esta separação, pelo nosso amor!
Partes mas ficas  para sempre em mim
Deixas muito, mas também deixas um vazio
Deixas um legado, a lembrança,
A saudade... este frio
Levas contigo um pedaço do meu ser
E eu, menos filha, menos mulher
Vou ficar, lembrar, chorar, sofrer!
Vai em Paz
Como em paz sempre viveste
Sei que sempre lutaste
Mas que, agora, perdeste.
A minha vida vai continuar
Mais pobre triste e vazia
Mas sei que algures
Tu por mim estarás a zelar.
Adeus, até sempre, até já
Havemos de nos reencontrar
Aqui, aí, ou em qualquer lugar...
Adeus, pai!!

segunda-feira, 22 de agosto de 2011



Para entrar no castelo tenho que atravessar o fosso... mas este fosso que preciso de atravessar é tão profundo, sujo, mal cheiroso e extenso, que já estou demasiado cansada para continuar...

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Da decisão de não amar...



Há momentos determinados para tudo na vida e, por isso, há sempre momentos de reflexão. São os acontecimentos que os ditam ou que os exigem e a vida colocou-me deliberadamente nesta situação. 
Apesar de toda a minha actual vulnerabilidade, apesar de tudo me ser insuportável, apesar de todas as emoções (que mesmo assim tento evitar) é também altura de tentar libertar tudo de dentro de mim. Libertar o bom e libertar o mau. Libertar o que me dói e o que eventualmente ainda me pode conseguir confortar. Mas libertar. Deixar fluir, sair de cá de dentro todo este amor reprimido (tanto amor diferente por seres tão diferentes) e tentar conseguir viver mais vazia, menos sofrida, mais liberta, menos empenhada, mais desinteressada, menos triste, mais fria, menos emotiva, mais amorfa, menos frágil, mais distante, menos forte.
É altura de olhar apenas para o meu umbigo e de me convencer de que o amor dos outros não me pode, não me deve afectar, como também não me pode nem me deve afectar desta forma o amor que sinto pelos outros.
Amar, sob que forma for, é sinónimo de sofrer. Como até aqui não fui capaz de não amar, também não fui capaz de não sofrer.
Também por isso é tempo de reflectir. Reflectir e mudar, mesmo que essa mudança implique deixar de sentir: o bom e o mau que o bom acarreta.
É o amor (a sua falta ou o seu excesso) que me desequilibra. 
Agora, revoltada, sofrida e abandonada, pretendo mudar... e manter o equilíbrio. 
Quatro seres masculinos, quatro fontes de amor, quatro focos de dor, quatro pontos de sofrimento. Todos de origens diferentes, todos traduzíveis em igual dor: pelo abandono ou pela distância, pelo desinteresse ou pela ausência, pelo silêncio ou pela desistência.
Assoberbada de emoções e sentimentos, assim tenho vivido... e sofrido.
Agora, que o mais velho desses seres decidiu abandonar-me, é tempo de me resguardar e decidir que também devo abandonar todos os outros, virar-lhes as costas, não lhes atribuir importância e viver fria e desinteressada.
Talvez seja mais fácil não sentir, não amar, não querer, não dar, não precisar.
Não devia ser superiormente permitido abandonar ninguém. Não devia ser superiormente permitido fazer sofrer.
Mas, porque o amor e a vida são feitos de escolhas, esta é a minha escolha. Esta é a minha reflexão. Esta é a minha decisão: vou deixar de amar!

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Quereres da dor



Quero fugir
Desta dor nova e intensa
Que me tornou cativa
E que faz com que não viva.
Quero escapar
Desta tristeza que me consome
Deste vazio que me enche
Deste desânimo que me esvazia
Desta infelicidade que me destrói.
Quero voltar a viver
Ter esperança
Ser feliz
Acreditar
Ter conforto
Quero amar
Quero ter amor
Quero esquecer este momento
E continuar
Quero aceitar a perda
O destino
A dor
E transformá-la
Em saber
Em recordação
E em amor.
Quero fugir
Enfrentando a realidade
E metamorfoseando-a em força.
Quero que o tempo passe
E mitigue esta imensa dor
Que me vai doer para sempre.
Quero fugir
Sem me deixar cair
Neste abismo que me chama
Neste escuro que me cerca
Neste frio que me queima...
Quero...

Crónica impossível - II

Tornei oficial a minha decisão e, contudo, nada parece alterado.
Apesar de querer, não me consigo livrar deste corpo que me prende e não consigo partir.
Decidi assim pois, por vezes, é preciso saber desistir das nossas lutas e ter consciência da realidade que nos pode esperar para além delas. Porém, estou triste pelos que ficam.
A noite continua, embora veja já uma pequena luz no outro lado.
Estou triste pois vejo ainda o sofrimento que o meu corpo adormecido causa à minha família. Nada posso dizer ou fazer para a confortar. Sei que todos são fortes e que vão aguentar com a dignidade de sempre este momento que pareço prolongar involuntariamente.
Vou-me embora, no entanto, mas sei que um dia nos encontraremos todos de novo e que, também de novo, voltaremos a ser felizes juntos.
Prometo que largarei este corpo assim que conseguir. Coragem, mulheres da  minha vida!

sábado, 13 de agosto de 2011

Contrariar as Contrariedades



"Uma das coisas que aprendi é que se deve viver "apesar de". "Apesar de", se deve comer. "Apesar de", se deve amar. "Apesar de", se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio "apesar de" que nos empurra para a frente. Foi o "apesar de" que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora da minha própria vida."

Clarice Lispector

Morte lenta



O meu coração tem uma morte lenta. Vai perdendo as esperanças uma a uma, como folhas secas de outono até que já não lhe reste nenhuma. Nenhuma folha nem nenhuma esperança...

sábado, 6 de agosto de 2011

Crónica impossível



Depois das dores dilacerantes, depois de um sofrimento físico prolongado, lentamente começou a ficar muito escuro. Agora está tudo negro mas já não sinto dor. Está frio e húmido e quase não oiço nada. Vejo-me obrigado a abandonar este corpo com o qual não me identifico e que me aprisiona. Ele não me obedece, não faz o que lhe peço e permanece inerte como uma rocha. Não sei o que se passou comigo. Não consigo explicar a ninguém o que aconteceu, o porquê deste sono imenso, e limito-me a assistir com tristeza ao desfilar de todos os que me rodeiam.
Saio dele e vejo-me de cima.
E queria poder comunicar, dizer aos médicos que não desistam de mim, que me mantenham as máquinas ligadas por mais uns tempinhos. Queria poder dizer à minha mulher, que sofre em silêncio, que já não tenho dores, que não estou em padecimento. Queria poder dizer aos meus filhos que sejam sempre fortes e que ainda estou aqui. Oiço-os, à vez,  sei o quanto eles gostam de mim e não lhes posso dizer que também os amo!
E não sei se consigo voltar para junto deles. Não sei se vou conseguir ganhar mais uma batalha, esta tão complicada e desleal. Estou cansado, muito cansado!
Mas gostava de poder ficar, de os acompanhar por mais algum tempo. Ainda tenho coisas para ensinar, histórias para contar, verdades para revelar, sonhos para viver e muito para aprender.
Queria poder voltar a passear de braço dado com a minha mulher, poder aconselhar os meus filhos, rir com os meus netos e andar de mão dada com o meu bisneto, esse estrangeirinho que mal conheço.
Queria poder voltar a andar pelo campo, regar as minhas laranjeiras, ver crescer as videiras e fazer festas aos meus cães.
Queria ainda concretizar alguns pequenos projectos, conhecer novos lugares, falar com novas gentes, rever os amigos.
Mas nada disto depende de mim.
Está a ser uma noite longa  e difícil, que não acaba porque eu não acordo e o meu corpo, apesar de ser meu, não me pertence e está velho e a ceder, mirrando e deteriorando-se a cada dia, a cada hora que passa...
Não depende de mim e não sei se vou conseguir regressar...

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Édito



Estou zangada,
Estou revoltada
Contigo.
Estás a desistir
A cada hora que passa
Deixas-te ir,
Tudo pela calada.
Perdeste a última luta
Sem lutares
Deste a vitória
Ao adversário
Sem tentares.
Porque o fazes?
Tu não és assim!
Não és o que eu
Sempre conheci!
Não quero
Não aceito
Não deixo acontecer!
Determino
O teu despertar
Nem que seja
Lentamente
Mas, não me deixes
Não te deixes
Esvaecer
Não te deixes levar!
Estou irada
E não me vou
Conformar.
E por ti vou chamar
Até te conseguir
Acordar!
Estou danada!



terça-feira, 2 de agosto de 2011

Navegar




Resgataste-me com sabedoria
Já andava eu à deriva
Num mar revolto e encrespado
Pleno de ondas altas de emoção
Algumas delas provocadas
Pela minha condição.
Devolveste-te à vida
Restituíste-me a esperança
Depois da ameaça de despedida.
Não esperava...
Não sabia...
Mas era só no que pensava
E era tudo o que pretendia.
Estou feliz e confiante
Tudo parece ser possível.
O resgate não foi difícil
E talvez tenhas sentido
Que nós, afinal, fazemos sentido
E que ambos vamos
Com força, sobreviver
Às intempéries que
Ainda podem acontecer.
Tenho as palavras certas
Que me faltam, mesmo assim
Para traduzir
O que me fica por falar
Para traduzir
O que vai dentro de mim.
Quero contigo continuar
Neste mar, ainda furioso
Pois um dia ele há-de mudar
E tê-lo-emos menos impetuoso.
Uma onda de cada vez
À tona vamos nos manter
Navegar e aproveitar
O aconchego do afecto
A embalo do amor
E, navegar, navegar
Num doce flutuar
Até o mar secar.

Sono imenso



Quiseste adormecer
Nesse sono tão profundo
Que não te deixas acordar
Nem voltas para este mundo.
Estou aqui à tua espera
E, com esforço, tento te despertar
Mas tu, fascinado, insistes
E nesse sono te deixas ficar.
Digo o teu nome
Digo o que tu me és
Porém, tu não me ouves
Num nanossegundo
Abres os olhos, mas não me vês
Já não sabes quem sou
Já nada te parece interessar
Talvez, a dormir
Tu acredites tudo ultrapassar.
Estás a ser interesseiro
E só em ti estás a pensar
E eu? Que fazes de mim?
Também me vais abandonar?
Não é justo para nenhum de nós
Teres escolhido
Este meio tão distorcido
E assim, tão longe
Quereres permanecer
Anda! Volta! Regressa!
Sei que nada posso prometer
Mas, uma coisa é certa:
Aconteça o que acontecer
Nunca, mas nunca,
Eu vou te esquecer!