segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Final de Verão

Este final de Verão foi diferente de todos os outros da minha vida.
Esperei por ti ansiosamente; sonhei contigo... imaginei-te dentro da minha cabeça... atribui-te um rosto inventado por mim.
Mas tu faltaste na data em que tínhamos marcado o nosso encontro.
Teimaste em aparecer depois, de forma estridente e grandiosa como, aliás, era de prever: o teu pai tinha feito o mesmo comigo... porque não o havias de fazer tu?
E então chorei. Chorei num misto de tristeza e desilusão, frustração e mais tristeza ainda.

Mesmo assim senti-te várias vezes quando, protegido, ainda te escondias de mim. Amei-te em silêncio e à distância, desejei-te e dei-te o meu apoio.

Quando finalmente me anunciaram a tua chegada atrasada e atribulada, voltei a verter lágrimas, com empenho e alegria, mas simultaneamente com a revolta interesseira de quem está longe e em nada pode participar.
Continuei a imaginar o teu pequeno rosto, o teu cheiro, a tua pele macia, suave e rosada, os teus cabelos finos... o teu choro inocente.
Virei com afinco as folhas dos dias no calendário, mas eles insistiram em passar lentos.

Assim que a razão me permitiu e o coração deixou, voei para junto de ti para ter o prazer de te sentir, de te tocar, de te agarrar e amar em presença, mesmo que fechando os olhos em êxtase para te saborear!
Voltei a marejar os meus olhos, de forma incontrolada e imberbe, assaltada pela alegria. E embora já te conhecesse de imagens, ultrapassaste grandemente as fronteiras da criação da minha imaginação e, tantos anos depois, senti-me mãe de novo como pela primeira vez: era como se revisse e revivesse o meu próprio menino.

O amor que sinto por ambos??? Indescritível, profundo, singular, incomparável, indizível, já que as palavras existentes não chegam para o fazer!
Apenas o consigo comparar ao brilho do Céu azul, ao calor do Sol, ao aroma da Terra, à frescura do Mar, ao precioso Ar que respiro.
Mas continuamos longe, fisicamente separados por imensos pedaços de terra e outras tantas gotas de mar... com todo o amor que nos liga.

Este final de Verão foi diferente de todos os outros da minha vida e permanecerá inolvidável e indelével para sempre! E isto é felicidade.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Crónica de uma morte anunciada


Qual Viúva Negra aproximaste-te de mim
Cortejaste-me com avidez e perícia
Não queria que tivesse sido assim
Vejo que o fizeste com malícia.

Com ela aprendeste a amar
De forma breve mas intensa
Contudo, apenas me conseguiste magoar
Deixando para sempre uma marca imensa.

Foi desde cedo uma morte anunciada
E aquele teu último beijo
Soube a fel, a sangue e a dor violenta

O meu coração vai paralisar, mas de forma lenta
Formalizando esse teu ensejo
Deixando de ser tudo e passando a ser nada.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Animais domésticos


A Desilusão é um animal doméstico que vive diariamente nas nossas casas e partilha a nossa vida.
Muitas vezes nasce de geração espontânea e aloja-se facilmente onde encontra uma porta deixada aberta pelo cansaço da luta, pelo desânimo da vida, pela exaustão do ser humano.
Outras vezes é por ele inconscientemente adoptada sendo actualmente o processo de adopção extremamente desburocratizado, podendo o mesmo acontecer em qualquer condição social.
A Desilusão é um animal doméstico que cresce nos nossos lares e nos nossos seres, tomando no entanto e muitas vezes, grandes proporções.
Se não estivermos atentos a Desilusão tende a consumir as pessoas sobretudo quando as expectativas das mesmas relativamente à vida e aos relacionamentos são demasiado elevadas.
A Desilusão, um animal doméstico, alimenta-se essencialmente de pequenos actos falhados, de acontecimentos diários que vão contra o que se espera, ambiciona, deseja.
A Desilusão, esse animal doméstico, também tem alguns parentes ocultos, nomeadamente o desânimo, o medo, a revolta, a tristeza e muitas vezes a solidão.
A Desilusão, esse tal animal doméstico, é também um fruto desta sociedade globalizada, em desconstrução, em desmoronamento.
Para extinguir este animal doméstico tão nocivo à saúde do Homem e que tende a voltar ao seu estado selvagem são aceites sugestões de intervenção, tais como: peditórios, manifestações, armas químicas, revoltas individuais, atitudes de insubmissão e muitas outras...
A Desilusão é um animal doméstico.