quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Perdi o barco


Sei que não foi de repente, mas a mim até me pareceu... sei apenas que perdi definitivamente o barco!

Tive dificuldade em chegar ao cais pois andei muito tempo à deriva ou a nadar contra a maré; quando finalmente o atingi, permaneci nele à espera de conseguir forças para comprar um bilhete, num lugar decente... e o tempo foi passando sem esperar por mim ou sem me ter em conta... e eis que o barco já partiu e eu acabei por ficar retida no cais, sem conseguir lugar para entrar.

Encontro-me irremediavelmente sozinha e isolada de todos, aqui neste embarcadouro agora à espera de uma outra viagem. Nessa tenho a certeza de que conseguirei embarcar sem preocupações... só não sei quando.

Esgotei as forças para me insurgir contra o que quer que seja mas estou também demasiado fraca para aceitar o que me foi destinado. Não protesto, mas não aceito; não quero mas não posso rejeitar...

O rio vai correndo com águas sempre exaltadas que, em turbilhão, me roubam do cais e me impelem até ao mar. Já não vou nadar... deixo-me apenas arrastar até a exaustão me consumir...

Já não sei onde estou...

domingo, 9 de janeiro de 2011

Antes que seja tarde




Antes que se torne insuportável
Ainda com os olhos húmidos
Vou esboçar um sorriso
Neste rosto sem expressão
E libertar, um a um,
Todos os meus pássaros feridos.

Antes que a dor seja insustentável
Vou soltar todos os meus sonhos
Para que eles possam encontrar
Um novo hospedeiro,
Deixando-me, a mim,
A liberdade de não os querer.

Antes que se torne incontrolável
Vou deixá-los partir
E uma nova meta vou traçar
Sem utopias ou devaneios
Sem ilusões ou anseios
Para não ter mais que desejar
E, vazia, a vida poder atravessar.

Antes que se torne inviável
Vou deixá-los voar
Pois, também eles, estão a sufocar.

E, sem esta dor de partilha
Sem o peso do inalcançado
Sem a mágoa do inconcretizado
Antes que seja tarde,
Vou, agora, uma nova vida começar!