
Sei que não foi de repente, mas a mim até me pareceu... sei apenas que perdi definitivamente o barco!
Tive dificuldade em chegar ao cais pois andei muito tempo à deriva ou a nadar contra a maré; quando finalmente o atingi, permaneci nele à espera de conseguir forças para comprar um bilhete, num lugar decente... e o tempo foi passando sem esperar por mim ou sem me ter em conta... e eis que o barco já partiu e eu acabei por ficar retida no cais, sem conseguir lugar para entrar.
Encontro-me irremediavelmente sozinha e isolada de todos, aqui neste embarcadouro agora à espera de uma outra viagem. Nessa tenho a certeza de que conseguirei embarcar sem preocupações... só não sei quando.
Esgotei as forças para me insurgir contra o que quer que seja mas estou também demasiado fraca para aceitar o que me foi destinado. Não protesto, mas não aceito; não quero mas não posso rejeitar...
O rio vai correndo com águas sempre exaltadas que, em turbilhão, me roubam do cais e me impelem até ao mar. Já não vou nadar... deixo-me apenas arrastar até a exaustão me consumir...
Já não sei onde estou...