sábado, 15 de agosto de 2009

Descoberta


Habituamo-nos a viver com o que temos e com quem vivemos.
Acabamos por nos "habituar" a sociedade em que vivemos, ainda que nao estejamos de acordo, e so mais tarde percebamos porque.
Mas ha sempre uma altura em que percebemos o motivo de nos sentirmos pouco bem nessa mesma sociedade, nesse mesmo sistema.

Agora, em poucos dias descobri que:

- Nao me empurram nem me acotovelam ao entrar para o autocarro; pelo contrário. Sorriem-me e dão-me a vez, ainda que a minha não tenha chegado e eu passe indevidamente à frente, por engano ou apenas pela malvada força do hábito.

- Me acolhem com um cumprimento caloroso sempre que entro em qualquer local comercial ou quando se cruzam comigo num espaço limitado... mesmo sem me conhecerem.

- Me agradecem com cordialidade e em tom melodioso quando me dão o troco e se despedem... mesmo que eu nunca mais volte ao mesmo local.

- Não vejo papéis no chão, nem garrafas, nem plásticos. Poucas são as beatas caídas.

- Há pequenos caixotes de lixo espalhados por todo o lado. Há cinzeiros nas ruas. Há locais próprios para colocar as pastilhas elásticas depois de mastigadas.

- Não preciso de andar em slalom a desviar-me de dejectos caninos porque eles não existem. Em seu lugar há recipientes próprios para os colocar.

- Os passeios não estão atafulhados de carros mal estacionados. Raramente se ouve buzinar pois os condutores são civilizados e respeitadores das regras e sinais de trânsito.

- Há espaços verdes em frente a cada prédio, a cada habitação. Há campos de futebol para livre utilização de quem o quiser fazer.

- Nao ha policias nas ruas porque tambem nao ha delinquentes. Ha camaras de vigilancia sem que as pessoas se sintam invavdidas na sua privacidade.


- Há pessoas de todos os tamanhos e cores, vestidas das mais diversas formas, com os cortes de cabelo mais peculiares, a falar as mais diferentes línguas. Todas elas são vistas e aceites com naturalidade pois esta sociedade é composta das diferenças que a enriquecem.

Em pouco tempo percebi que sao estes pequenos nadas que eu nao tenho na minha terra, na minha sociedade e que eu vim encontrar, com naturalidade e bem-estar nesta outra sociedade, nestas outras pessoas, aqui num outro pais da nossa Europa.

E, afinal, era tao facil "transportar" este modelo para o nosso ja tao desgastado modelo, para a nossa tao fragilizada sociedade!

Se todos quisessemos... era tudo tao mais facil!!

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Corpo de mulher


Deram-me "isto" e foram-me dizendo que era EU, que ele me pertencia.
Fui assistindo ao seu crescimento, às suas constantes transformações, mas nunca me habituei, nunca me foi confortável, agradável nem me esteve ajustado de forma a que me identificasse a 100%.
Pelo contrário pois a maior parte do tempo desagradou-me, agrediu-me, machucou-me, aprisionou-me e limitou-me...

Sempre considerei que tinha havido uma troca, involuntária claro, um qualquer engano por parte de alguém.
Mas também com o passar do tempo percebi que ninguém terreno tinha qualquer tipo de decisão nessa escolha, nesse sentido.
Continuei a não estar de acordo, mas, sem alternativa, nada mais me restou a não ser continuar dentro dele, não lhe dando grande relevância, mas tentando tratá-lo cuidadamente de forma a minimizar o constante incómodo que ele me causava.

Menina, adolescente, jovem mulher, jovem mãe, mãe, mulher, mulher madura... agora quase avó e o mesmo incómodo constante, inevitável, indesejável.

Tantas transformações, cortes de cabelo, cremes e maquilhagens... quantas dores, rugas, cabelos brancos e sofrimento. Alegrias? Prazeres? Alguns, certamente mas sempre com contrariedade, com uma aparente e fingida aceitação...

Sempre considerei ser muito mais do que o que ele mostrava ao mundo, mas agora, tantos anos dentro dele, pouco consegui fazer, pouco consegui mostrar que pudesse e viesse contrariar a minha inocente teoria de que ele não me pertencia, de que ele não me pertence ainda, de que ele não me pertencerá nunca!

No entanto, mesmo sem provas, sem factos concretos que possam ser analisados, continuo a dizer e a sentir que EU sou mais do que este Corpo que me incomoda cada vez mais até porque se está a deteriorar, até porque está a ser cada vez mais inconveniente e menos funcional, até porque dói, até porque se está a deformar, até porque ganhou peso, até porque já nem reage às manobras de makeup, às pinturas capilares...

Decididamente, Eu sou mais do que "isto", do que este invólucro no qual fui colocada.
Talvez haja uma altura em que ele não me vai fazer falta; talvez, posteriormente passe a uma fase em que ele deixa de fazer sentido e então, finalmente, me sinta liberta e livre para poder ser apenas EU.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Poema ao acaso

Poema ao acaso

Sorrisos ou Felicidade??


" Sorri quando a dor te torturar
E a saudade atormentar
Os teus dias tristonhos vazios

Sorri quando tudo terminar
Quando nada mais restar
Do teu sonho encantador

Sorri quando o sol perder a luz
E sentires uma cruz
Nos teus ombros cansados doridos

Sorri vai mentindo a sua dor
E ao notar que tu sorris
Todo mundo irá supor
Que és feliz"