Sem pretensões... Apenas para partilhar as palavras que me sufocam e voam demasiado céleres dentro do meu pensamento, reunidas em poemas que contam estórias... ou em crónicas de ninguém, sempre inventadas... por uma maria de luz (sem acordo ortográfico)
quarta-feira, 8 de junho de 2011
Momentos
Tenho momentos de chumbo
Momentos grandes de horrores
Em que os medos tomam cores
E parecem o fim do mundo.
Tenho momentos de tristeza
Em que a mágoa é tão grande
Que a dor até parece beleza
Mesmo que nunca abrande.
Tenho momentos de suspeitas
Em que de tudo duvido
E tudo são apenas maleitas
Que me sopram ao ouvido.
Tenho momentos de angustias
Provocados pelos teus silêncios
E afastamentos e ausências
Que me baralham os sentimentos.
Tenho tantos maus momentos
Em que só quero desistir
De nesta vida assim viver
De assim continuar a existir.
Tenho momentos tão negros
Mais negros que a própria escuridão
Em que nada vale a pena
E tudo me traz solidão!
Tenho momentos de tristeza...
Mentiras
"Tu julgas que eu não sei que tu me mentes
Quando o teu doce olhar pousa no meu?
Pois julgas que eu não sei o que tu sentes?
Qual a imagem que alberga o peito meu?
Ai, se o sei, meu amor! Em bem distingo
O bom sonho da feroz realidade...
Não palpita d´amor, um coração
Que anda vogando em ondas de saudade!
Embora mintas bem, não te acredito;
Perpassa nos teus olhos desleais
O gelo do teu peito de granito...
Mas finjo-me enganada, meu encanto,
Que um engano feliz vale bem mais
Que um desengano que nos custa tanto! "
Florbela Espanca
terça-feira, 7 de junho de 2011
Nascimento
Veio ao mundo, fora de tempo,
No calor de uma tarde de abril.
Chegou desconfiado e hesitante
Mas curioso e gentil.
Ela esperava-o
Sem muito esperar
E, duvidosa, deixou-o chegar.
Desceram a serra em serpente
E mergulharam os olhos no mar
Calmo, azul, esplêndido
Fluido de palavras
De questões e sensações.
Houve risos e silêncios
E águas com insectos,
Mas longa e animada
Foi a tarde de conversa
Que lhes abriu a vontade.
De itália veio o manjar
Que tão mal lhes caiu
E não conseguiram perceber
Como isso os afligiu.
Subiram alto ao castelo
E no meio da penumbra
As ameias foram palco
Do primeiro beijo roubado
Do primeiro beijo oferecido.
As luzes vislumbradas
Não iluminavam a cidade
Eram estrelas que brilhavam
E do céu se desprendiam
Apenas para os iluminar.
Estremeceram
Mas não do vento que soprava
Era já a emoção
Que cedo os dominava.
Fugiram com lentidão
Daquele lugar com magia
Mas ao chegar ao portão
Estavam presos até ser dia!
Pediram ajuda à campainha
Que com desalento
Lhes devolveu a liberdade.
Acabara a aventura diária
Mas adivinhava-se muito mais...
Ficou para a sua história
Aquele único nascimento.
domingo, 5 de junho de 2011
Repetições
Tenho dores que não passam
Atenuam-se com o tempo
Mas estão cá;
Tenho feridas que não saram
Criam uma crosta
Mas ficam cá;
Tenho medos que não se dissipam
São mitigados
Mas continuam a existir;
Tenho marcas indeléveis
Que são disfarçadas,
Mas não desaparecem.
E tenho situações que se repetem
Mascaradas de novas situações
Vestidas em outros intérpretes
Mas tudo é igual.
É este o meu estado
É este o meu destino
É este o meu tormento.
Não gosto, não aceito
Não quero, não aprovo
Mas mais nada posso fazer
A não ser... viver.
sábado, 4 de junho de 2011
Citações
"O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais, há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesmo compreendo, pois estou longe de ser uma pessimista; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que se não sente bem onde está, que tem saudades... sei lá de quê!"
...
"Estou cansada, cada vez mais incompreendida e insatisfeita comigo, com a vida e com os outros. Diz-me, porque não nasci igual aos outros, sem dúvidas, sem desejos de impossível? E é isto que me traz sempre desvairada, incompatível com a vida que toda a gente vive..."
Florbela Espanca
Diz-me, Amor, como Te Sou Querida
"Dize-me, amor, como te sou querida,
Conta-me a glória do teu sonho eleito,
Aninha-me a sorrir junto ao teu peito,
Arranca-me dos pântanos da vida.
Embriagada numa estranha lida,
Trago nas mãos o coração desfeito,
Mostra-me a luz, ensina-me o preceito
Que me salve e levante redimida!
Nesta negra cisterna em que me afundo,
Sem quimeras, sem crenças, sem turnura,
Agonia sem fé dum moribundo,
Grito o teu nome numa sede estranha,
Como se fosse, amor, toda a frescura
Das cristalinas águas da montanha! "
Florbela Espanca
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