domingo, 28 de julho de 2013

À espera...

Cruzei hoje o céu de lés a lés
E não te encontrei (serias tu uma das nuvens brancas?).
Ao longo de todo este tempo
Ainda não me enviaste um único sinal:
Nem um toque,
Nem um sopro,
Nem uma palavra ou um sussurro,
Nem um suspiro,
Nem uma fragrância,
Nem uma luz,
Nem uma simples imagem...
Partiste para todo o sempre
E não te despediste de mim.
Foste indo, devagar, devagarinho
Até que não voltaste.
Nada!
E eu fiquei sempre, estupidamente,
À tua espera... à espera de um sinal teu
De um sinal que não me queres dar.
Pensava que era especial para ti
Pensava ser a “tua menina”...
Mas enganei-me.
Outra dor que me deste.
Não deixo de te amar por isso.
Quero apenas encontrar-te
Saber onde estás e por onde andas
O que fazes e quem vês, com quem te encontras...
E saber quando posso ir ter contigo...
porque não aguento estas saudades que me consomem
Por dentro e por fora.
O tempo não mitiga a dor: dilata-a!
Porque não te vi eu quando atravessei o céu?!
O que é feito de ti?


JC - Inédito

sábado, 27 de julho de 2013

O Pior Medo é o Medo de Nós Próprios

“O medo é muitas vezes o muro que impede as pessoas de fazerem uma série de coisas. Claro que o medo também pode ser positivo, em certa medida ajuda a que se equilibrem alguns elementos e se tenham certas coisas em consideração, mas na maior parte dos casos é negativo, é algo que nos faz mal. (...) O pior medo é o medo de nós próprios e a pior opressão é a auto-opressão. Antes de se tentar lutar contra qualquer outra coisa, penso que é importante lutarmos contra ela e conquistarmos a liberdade de não termos medo de nós próprios.”

José Luís Peixoto, in 'Diário de Notícias (2003)


quinta-feira, 11 de julho de 2013

Quarto escuro



Permaneço, para além do tempo
E do espaço
Neste quarto escuro e exíguo
De portas para sempre fechadas
De portas seguramente já mortas
De janelas desde sempre ilusórias
De alçapões não encontrados.

Tudo se fechou neste quarto da vida
Sempre que pretendi continuar em frente
Longe de toda a gente
Que não passou de um mero invento.

O ar já não corre
E a cada minuto de tempo que passa
São horas reais intermináveis
Nesta imunda fossa  não cavada
Em direcção à liberdade
Sempre ansiada.

Quem afirmou que ao ser
Fechada uma porta
É aberta uma janela?
Certamente foi alguém
Que ignora a ergonomia
De um imóvel moribundo
Que não sabe o que é viver
A agonia de ainda estar viva.

Não é o fim, certamente
Porque o terminus verdadeiro não chega
Pois tudo se prolonga
Em dolorosa
Delonga.

Agora,
depois,
para sempre,
mesmo para além da morte
Mesmo para além da terrena vida
Continuarão as tempestades do meu deserto
Nele
Quente ou frio
Mas sempre tão incerto
Muito longe do que, simplesmente,
Poderia ser perto
Muito distante da ideia madura, tão pura...
Oh, tão pura!
Tão simples, tão ingénuo
Que no meu coração
Poderia, inocentemente
Viver para sempre.

Permaneço, contra vontade
Neste exíguo quarto escuro
Sem saída
Sem portas
Sem janelas...
                          JC - Inédito