sábado, 25 de fevereiro de 2012

Saudades... ai as saudades...




Saudades... ai as saudades... ainda as saudades... sempre as saudades!
Saudades do colo da minha mãe, saudades do abraço do meu pai, saudades do beijo do meu filho, saudades do sorriso do meu neto, saudades do amor que não tive.
Saudades dos que partiram para sempre e não podem voltar, saudades dos que estão mas  partiram e não querem regressar, saudades dos que nunca foram meus.
Saudades de uma vida que não vivi, saudades de parte da vida que foi minha, saudades de mim e do meu acreditar, saudades do meu sorriso e da minha alegria.
Saudades más, sempre saudades más porque doem, não cabem dentro do peito e fazem sofrer, fazem escurecer os dias de sol, fazem arrefecer as noites quentes e a vontade de viver.
Saudades do tempo em que a esperança era minha companheira, saudades do tempo em que a solidão não me doía, saudades de uma família.
Saudades... ai as saudades que me consomem... sempre saudades...cada vez mais saudades e mais dor!
Saudades... como as aguentar??

JC - Inédito

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Palavras desnecessárias


Desnecessárias 
Desnecessárias as palavras que nada querem dizer;
Desnecessárias as palavras que fingem abrir janelas mas há portas que estão a obstruir;
Desnecessárias as palavras que pretendem confundir e perturbar;
Desnecessárias as palavras que não deixam  avançar;
Desnecessárias as palavras que apenas tencionam persuadir;
Desnecessárias as palavras que são ditas para a dor fazer crescer;
Desnecessárias a palavras que carecem de ajuda mas simulam não a querer;
Desnecessárias as palavras que apenas servem para algo suspender;
Desnecessárias as palavras que apenas fazem cumprir
A única promessa que alguém me conseguiu fazer:
A de muitas lágrimas me fazer verter.
Desnecessárias essas palavras que, de longe, pouco conseguem expor
Mas que eu sei o seu autor.
Desnecessárias, certas palavras, porque o tempo passa,
A mente envelhece, mas o coração não esquece.
Desnecessárias...
Apenas palavras desnecessárias....

JC - Inédito



sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

"Tudo o que uma pessoa imaginar, outra pode torná-lo realidade."

Júlio Verne



quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Voar

De nada serve voar para longe, tentar virar costas a tudo, pois tudo continua sempre dentro de mim...
Como se faz para se ser uma outra pessoa??


JC - Inédito

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Flor



Acordo de manhã com vigor e quase viçosa, qual flor fresca.
Quero sempre acreditar que cada novo dia pode transportar uma nova esperança, um novo acontecimento, alguma qualquer evolução na minha vida, por mais pequena que seja.
Porém, o dia corre, as horas passam e com elas nada acontece e eu, perco as minhas pétalas de alento e vou fenecendo...
No final do dia não sou mais do que uma flor murcha e sem ânimo...
Amanhã será um novo dia...
Amanhã, talvez volte o viço e a esperança inventada.



JC - Inédito

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Sono...




Deixa-me dormir contigo o teu sono.
Embala-me, envolve-me de mansinho, protege-me nos teus braços como só tu sabes fazer.
Deixa-me ficar assim contigo, apenas estar, apenas ouvir as nossas respirações, sem nada dizer, sem nada fazer, sem nada pensar, sem nada sentir.
E se as nossas dores e as nossas mágoas teimarem em estar presentes roubando-nos a paz desse momento efémero, não as deixemos entrar, não as deixemos ficar.
Quero esquecer essas mágoas, deixá-las para trás e trocá-las por esperança.
Deixa-me... deixa-me dormir contigo o teu sono, esse sono que te tira da dor, esse sono que te faz esquecer o escuro, que te enche o teu vazio, que te dissimula o teu medo. Talvez esse sono eterno e sem retorno...
Deixa-me assim contigo ficar...
Mas se um dia o sono não chegar, se as dores não deixarem de doer, se as mágoas tanto pesarem que do escuro não conseguirmos sair, leva-me também contigo para aquele descampado e deixa-me percorrer contigo o caminho da eternidade.
Deixa-me dormir contigo o teu sono porque ele, tal como o silêncio, pode ser de ouro.

JC - Inédito

sábado, 4 de fevereiro de 2012


  
Ao folhear as páginas de um livro digital, encontrei mais um texto soberbo da mulher que eu talvez tenha sido em qualquer outra vida... 
Vou deixá-lo aqui, invejando a escrita...

"Amar Intensamente  

De que vale no mundo ser-se inteligente, ser-se artista, ser-se alguém, quando a felicidade é tão simples! Ela existe mais nos seres claros, simples, compreensíveis e por isso a tua noiva de dantes, vale talvez bem mais que a tua noiva de agora, apesar dos versos e de tudo o mais. Ela não seria exigente, eu sou-o muitíssimo. Preciso de toda a vida, de toda a alma, de todos os pensamentos do homem que me tiver. Preciso que ele viva mais da minha vida que da vida dele. Preciso que ele me compreenda, que me adivinhe. A não ser assim, sou criatura para esquecer com a maior das friezas, das crueldades. Eu tenho já feito sofrer tanto! Tenho sido tão má! Tenho feito mal sem me importar porque quando não gosto, sou como as estátuas que são de mármore e não sentem.

Florbela Espanca, in "Correspondência (1920) "

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Crónica dos sentimentos de hoje



                Tenho querido esquecer-me de ti, esquecer-me que te amei quase loucamente, que te amo ainda embora de uma forma resignada; tenho querido esquecer que, porventura tu exististe na minha vida e que, em alguma altura eu ponderei a minha existência ao teu lado, embora soubesse que isso nunca iria acontecer.
                Luto comigo mesma, luto com o tempo, luto com os pensamentos, luto com os sentimentos e vou assim, dia após dia, tentando fazer o meu luto.. o teu luto.
                Porém quando creio estar a arrumar-te dentro de uma das gavetas dos meus armários proibidos, eis que tu ganhas voz e me dizes algo... mas algo tão desconcertante e despropositado que também eu fico desconcertada e desconstruída, voltando assim à estaca zero, voltando ao ponto de onde tentei partir, voltando a sentir tudo de novo, tão intenso como sempre e o meu armário fica desarrumado e novamente vazio.
             Não entendo o teu propósito. Não te entendo agora tal como não entendi em outras circunstâncias, embora quase perceba algumas das tuas atitudes para mim tão irracionais.
                Sei que a tua racionalidade é diferente da minha; sei que nos pautamos por premissas de filosofia diversa mas, ainda assim, queria saber todos os teus porquês.
                E é então que se abrem todas as chagas, todas as cicatrizes ainda por sarar, todas as feridas que tenho: as que tu me fizeste e as outras que tenho coleccionado.
                Tenho vontade de te gritar, de te pedir, de te implorar até: "Ama-me para sempre ou deixa-me de uma vez por todas"... mas a voz não sai, as letras não se escrevem, as palavras morrem na ponta dos meus dedos.
                E assim continuo, acompanhando o passar descompassado dos dias, vivendo aos soluços, quase secretamente esperando um milagre ou, também secretamente, desejando que eles se acabem porque nada nem ninguém me preenche ou apazigua a dor.
                Mas vou morrendo aos poucos, quando a dor é tanta que não a suporto mais porque quando o sofrimento é excessivo, tenho que morrer um pouco para poder prosseguir.
                Depois de ti, ficou o escuro. Não um escuro intermitente e que passa com o nascer do sol a cada novo dia, mas um escuro permanente e sombrio que ensombra este pântano por onde me movo. O pior, é que nesse escuro vejo a tua sombra apenas, sendo tu sempre algo inalcançável.
                Talvez não queiras saber mas o teu afastamento arrastou consigo o resto da minha alegria, o pouco sono que ainda tinha, a última esperança que possuía e os pequenos sonhos que me restavam.
                Talvez ainda hoje, mais tarde, quando as sombras já tiverem adormecido e o escuro for igual ao escuro da noite sem luar, eu consiga começar a arrumar-te numa das minhas gavetas...
maria de luz

JC - Inédito