sexta-feira, 29 de abril de 2011

Viagens



Planamos em uníssono
Fruindo momentos de deleite
Nesta dimensão apenas humana
Pára o tempo, treme o mundo
Ai! Solto gemidos de prazer
Breves, longos, repetidos
Assim nos deixamos permanecer.
Voltamos, depois, à realidade material
Onde o tempo foge sempre
E o mundo é apenas isso.
Confiamos. Queremos.Somos.
Em Paz. Em Verdade. Em sentir.
A estrada abre-se e mostra-se.
Pé ante pé, avançamos.
Tardámos, mas surgiste.
E os caminhos antes paralelos
Cruzados indubitavelmente
São agora, potencialmente
Apenas um...
Caminhamos
Planamos
Viajamos
Esta viagem com bilhete de ida
Esta viagem por mim querida
Esta viagem de viver!

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Confusão

Confundes-me.
Queres-me e afastas-me
A um tempo
Chamas-me e empurras-me,
Atrais-me e rejeitas-me
Deixas-me neste impasse
Fazendo-me acreditar
Mesmo duvidando.

Seduzes-me
Porque eu deixo
Porque eu gosto
Porque eu ainda quero
E depois voltas-me as costas
E continuas no teu silêncio
Devolvendo-me de novo
O meu conhecido emudecimento.

Nada temos
Nada somos um ao outro.
O que nos une?
Talvez um leito apressado
Talvez
Um sentimento reservado
Talvez um querer
Que não queres.

O tempo é breve
O estar, também
E neste vai-vem
O coração bate
E a insegurança, vem.

Confundes-me!

terça-feira, 26 de abril de 2011

Acordar

Despertei
Deste torpor de viver.
Acordaste-me, lembraste-me a vida
Que eu apenas pensava
Ser capaz de adormecer.

Tenho, afinal, tudo em mim
Quando acreditava
Já nada ter.
E tudo pode ser simples:
Basta apenas, querer!

Despertou de dentro de mim
Esta Mulher outrora esquecida
Tenho acordados, todos os sentidos
E sinto tudo com intensidade
Talvez porque não quero nada esperar
Para não me sentir de novo perdida.

Cerro os olhos
E continuo a sentir
O toque
O cheiro
O calor
Do teu corpo junto ao meu
E sorrio...
Que gozo de valor!!

Não sei quem és
Nem quanto tempo ficarás
E nesta efémera eternidade
Vivo apenas cada segundo
Com toda a intensidade
Antes que te vás.

Dá-me a mão, peço-te a medo
Vamos caminhar
Com uma ousadia cautelosa
E descobrir
Onde nos vai levar
Esta descoberta tão saborosa...

sábado, 23 de abril de 2011

Inferno de sentidos



Ai, este inferno de sentidos
Não me deixa descansar.
Sofro, em silêncio
E nada consigo alterar!
Sinto no peito a dor da distância
Na pele, o frio da indiferença
E no coração, o sabor amargo
De não ter a sua presença.
Sinto em mim o odor do medo
Velho, conhecido, repetido
Que não muda, embora ainda seja cedo.
Vejo o vazio e a incerteza
Oiço as palavras por dizer
Tacteio por entre o que foi dito
Cheiro o aroma do segredo
Saboreio, com anseio, cada desejo.
E este rodopiar de sentidos
Consome-me e fatiga-me
Padeço, sem querer, de um novo defeito
Em que a saudade é uma verdade
E o amor, um mal do peito.
Ai, este inferno dos sentidos!

Have a little patience




Recebo castigos
Por erros que não cometi
Sou punida
Por pecados que não vivi.
Acato a sorte,
Deste fado meu
Mas não aceito
Este destino
De ser eu.
Sofro
Por palavras que não digo
Por momentos
Que não vivo
Pela espera
Que não termina,
De uma felicidade
Adiada.
Não entendo
Esta arte
De cá estar
Este querer
Que dá azar!
Fico
Na incerteza
Do não saber
De não poder adivinhar.
E quedo-me
Em silêncio
Nesta prisão
Imensa e infinita
Que o meu corpo
Me ofereceu!

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Adeus




Tento
Mudar o imutável
Ver o invisível
Deixar de sentir o inevitável.

Falho.
Nada posso fazer
Nada posso dizer
Nada quero querer.

Vivo
Os dias depois das noites
Que vêm depois dos dias
Vazios, incompreensíveis, frios.

Procuro
Neste ramo seco de flores
A pétala menos seca e murcha
Para colocar na minha laje.

Termino
Poemas iniciados
Sonhos não sonhados
Tarefas por acabar.

Parto
De quando em quando
Para longe de mim
Porque desprezo esse ser.

Enterro
Num caixão oco, de pinho
Todas as ilusões guardadas
Em mim, qual caixa de pandora.

Desisto
Ponho-me no esquife
E com um grito de raiva
Despeço-me de quem fui.

Adeus...

Tatuagens




Deixa-me olhar fundo nos teus olhos,
Nesse olhar quente que me tatua
Com imagens de cor e de prazer
Marcando-me em forma de querer.


Quero aprender-te, se tu deixares
Saber-te, se tu me ensinares
Compreender-te sempre,
Mesmo sem tu mo dizeres.


Proteges-me no teu abraço quente
E eu, deleitada, nada faço,
A não ser render-me
Ao calor ardente do teu corpo forte.


Não importa quem tu foste,
O que fizeste e viveste
Nem tão pouco quem amaste
Porque hoje, és tu, novo, comigo.


O meu teu agora, começou.
Não importa quem eu fui
Quem não amei e de quem sofri.
Estou aqui, Mulher, liberta, única,
Renovada Virgem, para ti.


Contenho-me, em espasmos de ardor.
Não me deixo muito sentir
Assim, de repente. Por recato,
Vou, lentamente, ao teu encontro.


Viajamos
No espaço, no tempo, ou em nenhum deles.
Viajamos em nós,
Tu em mim e eu em ti,
Em viagens de cumplicidade e alegria
De reconhecimento e de desejo
De prazer e preenchimento.


Por isso, cada nosso momento
É único e rico
Enriquecedor e gratificante...
E nesta doce mudança,
Os dias acontecem, plenos
Com uma nova esperança!

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Não te amo


"Não te amo, quero-te: o amar vem d’alma.

E eu n'alma - tenho a calma,

A calma - do jazigo.

Ai!, não te amo, não.

Não te amo, quero-te: o amor é vida.

E a vida - nem sentida

A trago eu já comigo.

Ai!, não te amo, não.

Ai!, não te amo, não; e só te quero

De um querer bruto e fero

Que o sangue me devora,

Não chega ao coração.

Não te amo. És bela, e eu não te amo, ó bela.

Quem ama a aziaga estrela

Que lhe luz na má hora

Da sua perdição?

E quero-te, e não te amo, que é forçado,

De mau feitiço azado

Este indigno furor.

Mas oh!, não te amo, não.

E infame sou, porque te quero; e tanto

Que de mim tenho espanto,

De ti medo e terror ...

Mas amar... não te amo, não."

Almeida Garrett





Os cinco sentidos



"São belas - bem o sei, essas estrelas,

Mil cores - divinais têm essas flores;

Mas eu não tenho, amor, olhos para elas:

Em toda a natureza

Não vejo outra beleza

Senão a ti - a ti!

Divina - ai!, sim, será a voz que afina Saudosa - na ramagem densa, umbrosa,

Será; mas eu do rouxinol que trina

Não oiço a melodia,

Nem sinto outra harmonia

Senão a ti - a ti!

Respira - n’aura que entre as flores gira,

Celeste - incenso de perfume agreste.

Sei... não sinto: minha alma não aspira,

Não percebe, não toma

Senão o doce aroma

Que vem de ti - de ti!

Formosos - são os pomos saborosos,

É um mimo - de néctar o racimo:

E eu tenho fome e sede ...sequiosos,

Famintos meus desejos

Estão... mas é de beijos,

É só de ti - de ti!

Macia - deve a relva luzidia Do leito - ser por certo em que me deito.

Mas quem, ao pé de ti, quem poderia

Sentir outras carícias,

Tocar noutras delícias

Senão em ti - em ti!

A ti! , ai, a ti só os meus sentidos Todos num confundidos,

Sentem, ouvem, respiram;

Em ti, por ti deliram.

Em ti a minha sorte,

A minha vida em ti;

E quando venha a morte,

Será morrer por ti."

Almeida Garrett


sábado, 16 de abril de 2011

Batalhas





Luto,
Esta luta desleal
Desvantajosa e ilegal
Que um dia me obrigaram.

Batalho,
de forma árdua
E sem proveito
batalhando, quantas vezes
Também sem jeito.

Combato,
Contra conceitos instituídos
Contra assuntos definidos
Contra seres erigidos
Sem hipótese de ganhar.

Pelejo sempre,
Em andrajos e sem armas
Sem montada e sem glória
Sem força ou poder.

Brigo sem cessar
Nesta briga
Em que sei
Por melhor que fizer
Sempre ir perder.

Porque a vida se repete
Aparecendo muitas vezes
Mascarada de pessoas novas
Vindas de perto ou de longe
Sendo sempre as mesmas.

Desencanto-me, neste encanto
De coincidências,
De momentos duplicados
Impostos
Vezes sem conta.

E assim, desisto
Nem por isso resignada
Mas abandonando o meu querer.
Nesta ilusão por mim criada
De um dia pensar
Ser possível
Te ter.. e para mim, eu ser!



sexta-feira, 15 de abril de 2011

On ira





Surgiste por entre o nada e coisa nenhuma.
Trazes ainda a vontade e o querer
E dizes... sentir!

Entre o calor deste fogo
Que me queima o intimo
E o querer sentir amor
Entrego-me... sou toda tua,
sem pudor!

Não sei o amanhã, não sei se virá paixão
Mas entre o Desistir e o Arriscar
Estou segura que quero continuar!

Sinto-te em mim, de forma intensa e feroz
Mas não sei se consigo reprimir
Esta paixão que já acendeu entre nós!

Seguro-te, sem te agarrar
Dou-te tudo o que tenho
Sem nada te dar.
E apenas ficarás comigo
Porque, sei, um dia...
Irás me amar!

Demanda




Tenho apenas o que sou
E nesta questa de procurar
Encontro apenas o caminho
Por onde sei que não vou!

Ando em vão, dia após dia
E a vida vai-se esgotar.
Tropeço, caio, ergo-me,
Marcho a coxear.
Depois corro sem parar,
Até, de novo,
Alguém me derrubar.

Ainda não me apetece desistir
Embora, por vezes, queira apenas fugir.
E nesta demanda de fingir
Sou a mesma... não vou mudar!

Dói-me sempre o querer
E a solidão que já vesti.
Passa o tempo,
Foge a vida,
E eu, triste, não vivi!