segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Fogo que arde















Ardo
Neste fogo vivo
Nesta vida afogueada
Nesta dor de não sentir

Ardo
Ao sabor dos acontecimentos
Ardentes
Sem querer o que tenho
Sem ter o que quero

Ardo
Nesta vida em que não vivo
Nesta vivência que me mata
Nesta lenta morte latente

Ardo
De forma consciente mas insana
Nesta já insensata forma de estar
Nesta insensatez lúcida

Ardo
Num fogo parecido ao Inferno
Numa terra, esquecida e queimada
À espera que a chama se quede
E a dor se vá!

Ardo
Numa fogueira já sem fumo
Numa chama já sem pavio
Em que a própria labareda
Já ardeu!

Ardo
E mesmo o crepitar é triste
Mesmo o lume é frio
E ninguém ouve o meu arder...

Ardo!

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Nove anos



Finalmente encontrei-me.
Descobri o meu corpo frio
Nove anos depois de ter partido.
Quis punir e pôr todos à prova
Os meus amigos e os meus não amigos
A família próxima e a mais distante
Os vizinhos e os conhecidos
E, à vez,
Todos chumbaram no exame.

Previsivelmente, ninguém deu pela minha ausência
Apenas porque ninguém dava pela minha presença.
Morri tal como vivi, sozinha
E entregue a mim própria.

No meu último suspiro escolhido
Somente tive por companhia
Quem sempre me acompanhou
De forma sentida,
Única e verdadeira: o meu cão
Que, fiel, preferiu partir comigo.
Talvez o mundo tenha ficado na mesma
Pois eu nunca consegui
Fazer a diferença
Mas, agora que sei onde estou
Apenas posso dizer
Que o mundo ficou mais pobre sem mim
E quem disse que me amou
Jamais poderá ter sossego e paz
Porque mentiu.
Paz! Agora, onde estou, tenho Paz
E sinto amor... pelo menos o meu amor
Por mim própria.
Parti, virando as costas
A esta sociedade vil e cruel
Que deve agora meditar
E tentar alterar a forma de tratar
Todos os velhos que vegetam
Na sua solidão!
Finalmente, encontrei-me!



sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Aprendizagens





Por fim aprendi a mentir!
Montei-me em palavras enganadoras
E disfarcei a dor que sinto
Agora, de tão convicta
Ninguém acredita que minto!

Digo que não sofro
E que amo a solidão
Mas no fundo, bem no fundo
Não gosto de estar sozinha, não!

E mesmo assim ainda minto
Porque tenho comigo a Dor
Forte, alegre, vivaça
Que me toma toda a energia
Por isso, não estou sozinha
Tenho a Dor como companhia.

Ela é grande e atrevida
Porque toma várias formas
E vive dos meus sentimentos.
Obriga-me assim a mentir
Para a conseguir esconder.

Tive bons ensinadores e
Finalmente aprendi a mentir
E a dizer que não sinto o que sinto...

Agora, é tarde, e não há nada a fazer.
Perdi a inocência
Morreu dentro de mim a verdade
Que mesmo assim conservo escondida
Num canto esquecido do meu coração.

Finalmente aprendi a mentir!