
Secaram-me as palavras
que me vieram morrer na garganta
Sem ter força para sair
Sem ânimo para o mundo alterar.
Morreram, depois de viajar
depois de se acotovelar
Depois de lutar pela luta
Depois da decisão
de partir para ficar.
Acabaram os protestos e os lamentos
as culpas e os julgamentos
as incertezas e os seus sentimentos.
As palavras, minhas,
Já nada mais tinham a dizer
que ainda não tivesse sido dito
que ainda não tivesse sido pensado
que ainda não tivesse sido sentido.
E para não se repetirem
Para não se perderem
Cansadas,
Preferiram ficar
Desistir e secar.
Esgotaram-se
Mas em mim
Nada mudou
Nenhuma vontade passou
A não ser a vontade de falar.
Secaram-me as palavras
Porque não iam ser ouvidas
Porque não iam ser consideradas
Porque, também elas
Não iam ser escutadas.
Estancou-me a voz.
Resta-me a ira dos pensamentos,
Os actos, os lamentos e os tormentos
De todos os momentos
Que, em silêncio,
Vou querer libertar!