domingo, 27 de junho de 2010

Festas populares



Vêm aí o S. Pedro
E as Festas da aldeia
Está na hora de convidar os filhos
E dar sumiço à plebeia!

Que vivam os carrosséis
Os petiscos e as farturas!
Que viva o corso garrido
Com cavalos e charretes!
Que vivam todas as coisas
Menos a moça das chicletes!

Com tanta animação
Folia, largadas e diversão
Para quê perder tempo
Com quem é um estorvão?

Venham de lá esses toiros
E também as garraiadas
Vamos todos festejar
A liberdade e o contentamento
De nada ter que explicar
A ninguém, em nenhum momento!


Está aí o S. Pedro
E as Festas da aldeia
Conviver com os novos
Comer, rir e sempre beber
Sem ter nada que prometer!

Vem aí o desfile luminoso
Com carros, música, moças bonitas e alegria
Com os nossos amigos
Vamos cantar e dançar até ser dia!

Acabou o S. Pedro
Já sem filhos, amigos, festas e romaria
O que fazer à solidão e tristeza,
Ou à falta de companhia?

Foi-se embora o S. Pedro
E a aldeia despiu a sua cor
Com ele foram-se os descendentes
E foi-se também a certeza
Da perda de um grande amor.

Foi-se embora o S. Pedro,
Não há festas na aldeia...

sábado, 26 de junho de 2010

(Des)nudez


Sempre em cima dela, despi o meu melhor vestido
De padrões repetidos e cansados
Voltei a apanhar os caracóis do cabelo
Tirei a pulseira colorida e gasta
E descalcei os sapatos de salto,
Mas mantive-me em cima dela.

Deixei, então, cair o falso sorriso de esperança,
Substitui-o por lágrimas verdadeiras, até então contidas.

Ela estremeceu mais uma vez.

Cuidadosamente, coloquei um pé à frente do outro
E avancei um passo apertado, receoso ...

Desnudada, exposta ao meu ser, não me deixei olhar para trás.
Assumi, assim, perante mim, o que até então neguei: sou defeituosa.

Cobri-me com a verdade
Agasalhei-me com a tristeza
Quase adormeci na vergonha.
E ela, numa última convulsão, partiu-se!!
Pobre corda bamba!

Aterrei com estrondo e sofrimento
Tacteei, de olhos fechados, todas as equimoses do meu corpo
Sacudi-me, ainda estonteada
E compreendi que as fracturas já não estavam expostas.

Levantei-me, abanei-me com pompa e, por último, ergui-me.

Diferente, porque única, defeituosa, porque diferente,
deficiente, porque não me encaixo, assim vou continuar.
O estigma da corda... esse... desapareceu!

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Sempre fiz o que julgava estar certo



Sempre fiz o que julgava estar certo
Mas o destino, que é vil e mesquinho
Sempre pegou em mim e no que não consegui fazer
Para me castigar e fazer doer.

Sempre quis fazer o que entendi ser certo
Mas o infortúnio rondou continuamente por perto
Pois o resultado foi sempre mau
E agora, vejo-me quase só, neste deserto!
Não agradei a gregos nem a troianos
Desgarrada, apenas sofri enganos e desenganos.

Então penso: "E se eu fizer o que está errado?"
Pode ser que engane o fado
Me vista de desconhecida
E consiga, agora, bom resultado!

E se, por uma vez, fizer o que está errado
Deixar de ser sincera, puser o sentimento de lado
Caminhar incógnita mas de espírito pesado
Passear pela impostura, como qualquer outra criatura?

Sempre fiz o que entendi estar certo,
Encarei o mundo de coração aberto
E eis que estou aqui, sozinha, no deserto
Porque o desalento tornou-se um monstro
E está eternamente perto.

Sempre fiz o que pensava estar certo
E hoje, resta-me a consolação desta leveza no coração.